Lenine e a história do Na Pressão

02/09/2014

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Lidy Araujo

Por: Lidy Araujo

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02/09/2014

“Esse é um filho muito querido”, vai logo dizendo Lenine, a respeito de “Na Pressão” (1999). E olha que sua experiência trabalhando com Tom Capone nem começou nesse disco.

Foi dois anos antes, quando o músico participou do álbum “Astronauta Tupy” (1997), de Pedro Luís e A Parede. “Aquela madrugada foi fantástica. Pedro estava pensando uma coisa, a Parede estava pensando outra, e a gente se reuniu e pensou tudo de uma maneira completamente diferente. Aconteceu tudo numa questão de seis horas”, lembra. “A gente era cobaia do AR, estúdio que tinha acabado de inaugurar, com projeto sonoro do Tom. E eu tive a sorte também de ser cobaia numa Euphonix, que era um sistema maravilhoso da época, mas não vou ficar falando disso. Nosso encontro foi foda, e me apareceu ali, de imediato, a genialidade do Tom.”

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Lenine se refere à coragem do produtor e, mais do que tudo, à ousadia. “Era um cara que sabia em demasia de tudo, mas sempre perguntava como fazia. Era humilde, mas tinha os processos dele, fazia as coisas dele, tinha tudo na cabeça, e é muito bacana isso, porque você pode chegar ao mesmo resultado sonoro partindo de caminhos diferentes. O Tom sempre tinha o jeitão dele de fazer.”

Ouça o disco de Pedro Luís e A Parede:

“Na Pressão” foi o primeiro disco de Lenine produzido por Tom, e o tal “jeitão” do produtor encaixou perfeitamente com o do músico por um único motivo. “Pô, todos que trabalharam com ele vão dizer a mesma coisa: Tom tinha essa coisa camaleônica de se adequar. Ele trabalhou com Gilberto Gil, Milton Nascimento, Maria Rita… Ele tinha esse trânsito bacana em todos os meios. Não por acaso, o mercado absorveu rapidamente o trabalho do Tom”, explica.

Adequação, a propósito, foi uma palavra-chave em “Na Pressão”. Lenine conta que o disco foi gravado ainda na casa de Tom, antes da Toca do Bandido ser construída, e, “para ter sons diferentes”, os instrumentos foram todos espalhados pelos cômodos.

Naná Vasconcelos, Lenine e Tom Capone, gravando “Na Pressão”

Naná Vasconcelos, Lenine e Tom Capone, gravando “Na Pressão”

“Foi tudo muito intenso, porque trabalhar com Tom era muito intenso”, explica o músico. “Tenho uma lupa gigantesca das pequnas partes do tempo em que fiquei em volta de pequenas coisas. Essa visão geral, você só tem muito depois, quando está masterizando e vê tudo de uma maneira menos particular. A gente sabia o que estava fazendo depois, porque eu e Tom pensávamos do mesmo jeito. Era fazer, fazer, fazer, botar, botar, botar, e depois desfazer, desfazer, desfazer, tirar, tirar, tirar. E isso, ele dividia comigo.”

Embora tenha um visão geral do processo de produção, Lenine não deixa de guardar lembranças bem específicas da gravação de “Na Pressão”. A faixa “A Rede”, por exemplo, tem uma história bem particular e inusitada. “A casa de Tom era longe pra cacete. Agora, o Rio cresceu tanto, que você nem sente mais, mas antigamente demorava para chegar, e eu sempre me atrasava. Aí, um dia, quando cheguei, Tom estava me esperando na rede da varanda, se balançando e fazendo aquele barulho (imita o rangir dos ganchos de uma rede). Álvaro (Alencar) estava lá comigo, e eu disse para ele pegar o gravador. ‘A Rede’ nem existia ainda, mas o áudio que eu tenho, que gerou a canção, é do gordo na rede me esperando.”

Ouça o disco:

O álbum “Falange Canibal” (2002) também foi produzido por Tom e, segundo Lenine, é uma outra parte muito interessante em sua história . “Foi o segundo disco que a gente fez e, olha, foi foda, porque foi aquela coisa de pensar ‘o que a gente quer fazer, o que é bacana?’, e aí um foi mostrando coisas para o outro, e foi um encontro de uma porrada de coisas. É um outro capítulo muito especial, que eu conto para você outra hora.”

Então, tá. Só nos resta ouvi-lo:

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02/09/2014

Lidy Araujo é uma grande mulher. Porém, louca.
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