Música eletrônica no Brasil

28/01/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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28/01/2014

“As pessoas precisam escolher melhor as festas que vão. O brasileiro tem preguiça de pesquisar”.

As duas frases são de Claudio da Rocha Miranda Filho, co-fundador e diretor executivo do Rio Music Conference, maior encontro de música eletrônica na América Latina. O evento, que será realizado entre os dias 19 de fevereiro e 4 de março, é apenas um dos projetos desse homem que começou a se envolver com os beats desde muito cedo, com apenas 19 anos de idade.

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Claudio da Rocha Miranda Filho produziu algumas festas pelo Rio de Janeiro até investir no seu projeto mais ousado, em 2005. O Chemical Music Festival, maior espetáculo dedicado à música eletrônica já realizado no Brasil, levou mais de 22 pessoas ao Rio Centro na sua primeira edição, em 2005. O reconhecimento foi tanto que não demorou muito para que ele assumisse uma cadeira na Association for Electronic Music (AFEM), o órgão que representa os interesses dos profissionais do meio eletrônico no mundo todo.

Com mais de uma década dedicada à música, Carlos da Rocha Miranda Filho atendeu a NOIZE para falar sobre o cenário eletrônico, que segue o mesmo boom da atual cena europeia – mesmo que sem o mesmo apoio e reconhecimento. “Países europeus têm a música eletrônica no berço de suas culturas. É um bem da nação e é tratado como tal pelos governos e instituições”.

O mercado da música eletrônica no Brasil está em crescimento. Como podemos perceber isso? O que é diferente hoje se comparado com o cenário de uns dez anos atrás?

Os maiores indicadores são a quantidade de novas festas, festivais, DJs e produtores que se lançam no mercado a cada temporada. De norte a sul do Brasil, isso é facilmente identificado. O que há de diferente é que hoje, tanto quem empreende, como quem cria ou toca música, assim como quem presta serviço para esse mercado, pode encarar a atividade profissional como promissora e pensar facilmente em viver disso. Com mais informações acessíveis e capacitação profissional, uma grande cadeia produtiva e artística estará formada e o setor melhor servido.

A música eletrônica na Europa, principalmente no Reino Unido, é muito forte. O que falta para o Brasil atingir o mesmo nível?

Países europeus como a Inglaterra e Holanda (país de Armin van Buuren) têm a música eletrônica no berço de suas culturas. É um bem da nação e é tratado como tal pelos governos e instituições. No entanto, depois da banda larga em todas as residências, um fenômeno um tanto quanto recente, concebeu-se uma das maiores virtudes da música eletrônica, que a sua natureza é de facilitar misturas, aproximar distâncias. É um meio de produção para qualquer estilo contemporâneo, house, MPB, techno, pop, jazz, black; o Rei Roberto Carlos tem a sua versão “dançante” e até mesmo o sertanejo tem a versão “eletrônica”. Nesse sentido, há uma distorção e grande discussão nas comunidades enquanto às fronteiras dessa música, ou se é que ela exista. Assim sendo, com dinheiro no bolso da classe C, o entretenimento relacionado à diversão em alta, o Brasil está rumando a se tornar um país onde a música e os setores criativos e produtivos que a contornam se consolidem, os transformando em poderosos geradores de renda e riquezas.

Como você vê o reconhecimento da música eletrônica brasileira no exterior? Como é a música eletrônica com a “cara” do Brasil?

É um grande desafio ainda. O reconhecimento vem crescendo por mérito e muito esforço de alguns poucos artistas e clubes, que hoje são referência mundial com um trabalho incontestável.

Mas esta questão me leva a outra, possivelmente de maior relevância neste contexto. Um dos maiores adversários, talvez, seja a nossa própria cultura “americanizada”. Tudo que vem de fora é melhor, tem mais valor. Com os eventos esportivos no Brasil, o mundo está de olho em nós. Se tivéssemos uma cena respaldada em nossos próprios talentos, os nacionais e não os internacionais, nossos artistas seriam melhor reconhecidos e olhados com mais atenção no exterior. Mas o que acontece não é isso, para vender tickets o produtor do evento, festival ou dono do clube ou festa ainda tem que se apoiar no “gringo” e isso é uma realidade desde o clube da periferia até os grandes festivais como Lollapalooza e Rock in Rio.

David Guetta no Rock in Rio 2013. Foto: Flavio Moraes/G1

David Guetta no Rock in Rio 2013. Foto: Flavio Moraes/G1

Outro ponto é que é difícil para o estrangeiro, soberano e no alto do mundo (infelizmente esta ainda é a mentalidade de muitos), aceitar um talento vindo daqui de baixo, do “sul”, e tocando um som, mesmo que de qualidade, muito parecido com o deles. Quem acaba se destacando é quem faz um som diferente do que existe por lá, e que leva a o rótulo da “cara” do Brasil são aqueles que misturam aos seus sons, os ritmos regionais, como o funk e a música brasileira, por exemplo. E, claro, talentos natos, como DJ Marky. Há de se construir melhores caminhos ainda.

A crítica que muitas pessoas fazem às festas de música eletrônica no Brasil é que o DJ é quem só aperta um botão para tocar faixas conhecidas e que tocam no rádio.

Elas precisam escolher melhor as festas que vão. O brasileiro tem preguiça de pesquisar. Tem muita, mas muita coisa boa rolando no Brasil. Para todos os gostos.

2013 foi um ano que revelou grandes artistas para o cenário da música eletrônica. E os principais nomes que conseguiram isso seguiram uma tendência mais alternativa, como o The Knife, da Suécia, e o Disclosure, da Inglaterra. Qual será a tendência para 2014?

O The Knife, na verdade, já está aí faz muito tempo, a dupla tem uns 10 anos de estrada e sempre foi celebrada no meio eletrônico. O que aconteceu em 2013 é que, com o sucesso do álbum novo, muita gente conheceu o trabalho deles. O Disclosure é um fenômeno com a cara da Inglaterra: música com capacidade para agradar tanto as pistas “undergrounds” como para tocar na rádio, é um projeto fascinante, mas vejo como muito mais pop que alternativo. Tendência em termos de música é sempre um assunto complicado, mas parece que a influência do “garage”, que a gente percebe no próprio Disclosure, é algo evidente em muitas produções mais recentes, pode ser algo que se prolongue pelo ano. Muita gente aposta que o techno vai voltar com tudo em 2014 também, mas só caindo nas pistas pra saber o que vai acontecer mesmo!

Qual é a expectativa para o Rio Music Conference 2014?

Será a edição mais robusta, sem dúvida nenhuma. Pela primeira vez teremos três dias de atividades (antes eram apenas dois), a maior quantidade de painéis internacionais que já recebemos, grandes personalidades como o fundador da ID&T, Irfan van Ewijk; o lendário Frankie Knuckels, considerado o pai da house music; Richard Zijlma, fundador do ADE, entre muitos outros. Esperamos todos carinhosamente aqui no Rio de Janeiro.

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28/01/2014

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