Não se vá Primavera Sound

06/06/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

06/06/2014

Fotos: Fernando Schlaepfer/I Hate Flash

12 horas de vôo na tentativa de cobrir um dos maiores festivais do mundo. O Primavera Sound (Barcelona) em sua décima quarta edição carregava um line-up com atrações de peso tanto no mainstage como em seus palcos alternativos. Para mim seriam os quatro principais dias de uma viagem rápida à Espanha.

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A programação do dia 28 era aberta ao público e teria Temples, Sky Ferrera, Stromae e Holy Ghost! Barcelona me recebeu com uma chuva forte, mas não o bastante para afastar um público interessado no primeiro momento do festival no Parc Del Fórum.

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Consegui assistir apenas o show da pequena Sky Ferreira. Prejudicada pela chuva e por um técnico de P.A. que não dava o retorno, a apresentação pareceu uma massa cinzenta encobrindo sua voz e deixando a plateia desapontada. A cantora tentou diversas vezes sinalizar o ocorrido para a parte técnica, chegando ao extremo de parar o seu show para falar com a equipe.

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Na quinta-feira (29), já na entrada do festival tive a surpresa de conhecer o som do Föllakzoid que é basicamente um filho do Joy Division de boné. O pós-punk em uma bela tarde ensolarada. Clima perfeito para o primeiro show do dia, mas que combinava também com os carismáticos e engomados Real State, que na sequência presentearam a todos com um show rápido com as canções do disco recém-lançado, Atlas.

No palco Pitchfork quem se apresentava era o Pond em uma viagem transcendental e psicodélica. O rosto de Nick Allbrook todo pintado de maquiagem branca e azul e suas roupas largadas exibiam um caráter setentista invejável, enxaguado de uma liberdade própria de sua psique solo, mesmo estando dialogando nos riffs.

De volta ao Heineken Stage, se apresentavam as garotas do Warpaint, uma das grandes apostas para o primeiro dia de festival. Divulgando o disco homônimo com canções como “Love To Die” e “Feeling Right”, o quarteto fez o público cantarolar junto, mas não exibiu a tal sensualidade que é predominante no disco. O show era de longe um dos momentos mais tocantes e introspectivos do dia, que ainda teria grandes emoções.

Warpaint

Warpaint

Mas a feminilidade teve seu grande momento nos passos minimalistas de St. Vincent. Mesmo com um inexplicável playback de guitarra de Annie Clark, a banda mostrou um formidável desempenho ao vivo, fazendo jus ao mais recente disco lançado no começo deste ano. Com dancinhas coreografadas, Annie dominou o palco Sony do primeiro dia numa apresentação poderosa.

Decidi por vez assistir o show do Arcade Fire próximo a grade, então permaneci após o St. Vincent no palco onde também ocorreria o show do maior headliner da noite. Quis colocar uma lupa em cima dos detalhes que já vi no Lollapalooza Brasil. Conseguia ouvir o show do Queens Of The Stone Age com o coração partido. Mas percebi que a decisão foi valiosa no instante inicial de “Reflektor”. Win Butler e sua turma mostravam à Espanha o motivo de serem tão abraçados pelos panteões do rock como David Bowie, Mick Jagger, Bruce Springsteen, Neil Young e outros.

Arcade Fire

Arcade Fire

O show foi tão caloroso quanto o ocorrido no Brasil, Win (“vencer” em inglês e subtração de Edwin) Butler explica em seus atos porque é o líder da talvez maior banda da atualidade. Conduzindo os fãs a cantarem todos os refrões como se fosse um grande Xamã, o público ia ao delírio dançando como se fossem apenas um. Essa catarse se tornou tão grande que parecia ali o fim do festival todo, e na verdade ainda estávamos no primeiro dia e que ainda nem acabara. “Ready To Start”, “Sprawll II” e praticamente o mesmo line-up apresentado em toda a turnê presenteava o público que esperava há cinco meses por aquele show.

Naquela noite ainda teria o groove do Metronomy. A banda resolveu começar com “Holliday” do primeiro disco Nights Out (2008) e na sequência pôs mais treze faixas que passam pelos discos The English Riviera (2011) e Love Letters (2013). O visual lúdico com detalhes minimalistas no palco era tomado pelo carisma da baterista Anna Prior e seu sorriso estampado no rosto, assim como o groove e a disposição de Gbenga Adelekan, baixista do quarteto.

Mas quando Joseph Mount aparece – mesmo de maneira ponderada e educada – ele se mostra um líder criativo e singular, seu senso de humor falando piada sobre o desafio de fazer um show após os headliners Arcade Fire e Queens Of The Stone Age não apenas fez o público rir, mas cumpriu com a promessa que era: dançar.

O fofo John Grant começou o segundo dia com uma mistura de canções românticas e em outros momentos batidas mais dançantes. Naquele mesmo palco, o Heineken Stage se apresentariam o trio HAIM que deixou a todos impressionados com tamanha postura rock’n’roll misturadas com o tom dance 80.

O FKA Twings fisgou minha atenção no palco Pitchfork, com a sorridente Tahliah Barnett dominando a atenção com uma dança que misturava uma camada densa e sombria com movimentos de dança do ventre, em uma experiência bem singular.

The National

The National

No meio do caminho do palco do The National tinha um Lee Ranaldo enérgico. Assisti apenas uma música e seguimos para o show da noite: Matt Berniger é no mínimo o front-man com mais microfones quebrados e com o maior cabo do mundo. Será que ele está no Guiness? Pois deveria. Após subir na plateia mais de oito vezes e quebrar o microfone ao menos cinco ele é um recordista.

Após essa pancada do indie americano, passei pelos palcos do Jagwar Ma que rapidamente transformou a noite em uma grande festa e tentei o desastroso show do SBTRKT também, mas logo desisti em uma das vezes que o clima caiu durante as pausas entre as músicas.

Jagwar Ma

Jagwar Ma

No último dia na chegada do Parc dél Fórum encontro de cara com os Boogarins encantando as crianças no espaço dedicado a pais e filhos. Mas corri para ver o Superchunk, que apresentava o seu disco I Hate Music sem sua baixista. Desfalcados ou não, eles ainda trouxeram o espírito do bom hardcore com “Void”, “Tree of Barcelona” e “Slack Motherfucker”.

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Ouvia de longe os gritos do show de Caetano Veloso, mas naquele momento estava apostando mesmo era no Hospitality que valeu bem a pena. Mas conseguir ouvir o público entusiasmado ao ver o baiano de longe… dá aquele orgulho de brasileiro, sabe?

Caetano Veloso

Caetano Veloso

Com o cancelamento do Pizza Underground apostei no pior show do festival: Volcano Choir. O grupo se mostrou um Coldplay com muitos efeitos de voz, um time estranho e totalmente clichê e fora da linha do line-up.

A missão então era prestar atenção no Blood Orange, mas antes ainda tinha tempo para umas cinco músicas do Kendrick Lamar. Cheguei perto o máximo que pude do palco já lotado, para o ver o rapper que soltou logo de cara hits como “Bitch Don’t Kill My Vibe” e fez o público europeu ir ao delírio como nenhum outro show.

Kendrick Lamar

Kendrick Lamar

Mas a black music estaria também no Palco Pitchfork. Assim como o esperado, Dev Hynes surpreendeu uma grande plateia com suas duas backing vocals extraordinárias, muitas coreografias e uma banda incrivelmente alinhada.

Dev Hynes

Dev Hynes

O próximo show seria naquele mesmo lugar, Ty Segall era a escolha, resposta errada. Devido a um grande atraso fui ao palco do lado, no caso o da Vice, e tive a grande descoberta da noite: Helen Love. No mínimo uma revelação a se acompanhar, usando bases bem simples como de Madonna e Ramones e com uma despretensão sem fim, a vocalista ganhou a atenção de todo mundo em menos de um minuto.

Aos arredores vi o Black Lips sendo puro e essencialmente podre como o rock deve ser. Insanos seria uma boa palavra para aquele que eu achava que seria o último show da noite. Mas ao subir as escadas vi o Cut Copy trazendo uma energia que nem eu sabia que tinha para me aguentar em pé.

O Primavera Sound é um festival que mostra não apenas uma junção de várias bandas boas no mesmo horário, mas que ele é feito de escolhas que podem definir todo o clima nessa experiência. As datas já foram divulgadas para a décima quinta edição e são 28, 29 e 30 de maio de 2015.

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Eduardo Araújo é editor-chefe do site RockInPress e sócio da Estrondo produtora e assessoria musical
Texto com a colaboração de Mike Ikemonster

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06/06/2014

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