Damian Marley | O dia em que o reggae bateu e eu não senti dor

19/03/2015

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

19/03/2015

Fotos: Rafael Rocha

– Topa ir cobrir o show do Damian Marley?

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O convite veio na tarde de terça e eu não tive muito tempo para pensar a respeito. Se Welcome to Jamrock foi um disco que eu ouvi algumas vezes e que não me interessou muito, o próprio reggae em si é um estilo em que nada me apetece. Ou em nada apetecia, como o leitor que chegar ao fim da resenha descobrirá. E já que havia a chance de ouvir a faixa-título ao vivo, porque não? Então decidi que iria ao meu primeiro show de “reggae” e descobriria lá o que Damian, os Marley e o reggae tinham a oferecer numa noite de quarta-feira.

A noite começou com um sound system nervoso do rapper Agent-B, que foi acompanhado pela banda de Damian durante uns 40 minutos de muita rima e manha, esquentando a turma que chegava aos montes no Opinião e que lotou tanto a pista premium quanto todo o resto do bar. Tinha gente no mezanino, nas áreas laterais, espremida atrás da mesa de som e bem coladinhas no palco. Depois de todo mundo dançar bem com B, estar aquecido e já com sede do astro da noite, as luzes caíram de novo e Damian foi anunciado.

E daí pra frente eu já não sei dizer muita coisa. Não conheço os sucessos da cara e não quero buscar na internet pra dizer que sou entendido. Não sou. Prefiro dizer que os dreads de Damian indo até o chão e que a barba desgrenhada do cara me prenderam muito mais a atenção do que reconhecer as músicas tocadas ali. As poucas frases do inglês carregado de sotaque que eu consegui entender também me deixaram relaxado e com um sorriso constante no rosto. Foi uma experiência e tanto pra uma pessoa que gosta de música e se interessa por experimentar de tudo um pouco.

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Passei grande parte do show observando e curtindo, olhando ao redor e pensando. Pensando nas pessoas de todas as cores e estilos que estavam por ali e no que as aglutinava, sem distinção de grana, cor de pele, tamanho dos dreads, se estavam de salto ou de havaiana, se já foram à Jamaica ou se ouvem mais Armandinho que regueira roots. Nada disso, obviamente, importava. Nada disso era mesmo importante. A coisa mais importante e que estava ali, distribuída pelo palco, era a pressão do bumbo e o grave do baixo, eram os agudos e danças e expressões das duas backing vocals mais prezas que Porto Alegre já viu, combinada com os tecladistas que exalavam vibe tocando de olhos fechados. Tudo isso era oferecido junto com as rimas infinitas e com o fôlego aparentemente infinito de Damian, que também dançava e levantava os braços e conversava com o público e perguntava se conhecíamos a marijuana…

Já perto do momento do bis, Damian cantou alguns clássicos da discografia do pai que eu também não saberia dizer os nomes. Provavelmente eu era a única pessoa no Opinião ontem que não saberia dizer que músicas foram aquelas e não saber seus nomes não diminui quão bem elas fizeram com que me sentisse. Ao fim do show, ninguém arredou o pé e Damian voltou para mais algumas canções, dentre elas Welcome to Jamrock, a faixa que havia me motivado lá no início a ver e cobrir o show. Àquela altura, no entanto, pouco importava se a única música de Damian que eu conhecia seria tocada ou não, eu já estava arrebatado. Não só pela música, aliás, como também pelo rasta que passou o show inteiro em cima do palco, girando uma bandeira rastafári. Definir aquilo como hipnotizante é muito pouco.

Dizem que uma das frases clássicas de Bob Marley é que “quando o reggae bate você não sente dor”. Ontem eu pude comprovar isso, depois de tomar uma surra homérica de ragga, dub, dancehall e reggae e chegar em casa me sentindo leve e satisfeito. Foi uma boa noite, foi um show tremendo e Damian Marley me deixou pra lá de pensativo.

Jah bless.

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19/03/2015

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