Encontro de gerações | Erick Endres entrevista a lenda Robertinho de Recife (Metal Mania)

06/02/2015

The specified slider id does not exist.

Powered by WP Bannerize

Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos: Reprodução

06/02/2015

Quatro décadas separam os guitarristas Robertinho de Recife e Erick Endres. Tempo suficiente para o mercado da música se tornar diferente do que já foi. Mas se por um lado o mercado muda constantemente, por outro existem ídolos que serão inspirações eternas, e essa foi uma das coisas que Robertinho e Erick descobriram no papo que tiveram.

Quem ouve Robertinho de Recife falando sobre seus mestres Eddie Van Halen e Randy Rhoads não imagina o repertório de ritmos desse veterano da guitarra que vão além do metal. O garoto Erick Endres, que recentemente tocou no palco do Meca Festival, em Maquiné/RS, também quis saber sobre o disco de retorno do Metal Mania, banda em que Robertinho de Recife toca ao lado de Raphael Sampaio (bateria), Junior Mauro (baixo), Tibor Fittel (teclado) e de seu filho Fhorggio (EFX e DJ). Desde 1990 e Rapsódia Rock, o Metal Mania não lançava nada inédito. Nesse meio tempo, Robertinho dedicou-se à produção de discos e, segundo ele, são cerca de 320 álbuns de artistas como Zé Ramalho que já foram produzidos por ele.

*

Mas o metal é o lar de Robertinho de Recife e em dezembro de 2014 foi lançado Back For More pela Sony Music, disco com inéditas que deve ganhar uma versão em vinil no Brasil e no Japão. Assim como as experimentações da estreia solo de Erick Endres (ouça aqui), o novo disco do Metal Mania mistura as guitarras com o eletrônico. Veja o papo entre esses dois guitarristas:

Erick Endres: Sobre suas influências: no Rapsohdy Rock, por exemplo, a primeira pessoa que me vem à cabeça é o Ritchie Blackmore, que um pouco antes do Deep Purple gravou a 9ª do Beethoven com o Rainbow e uma orquestra.

Robertinho de Recife: Eu ouço todos. Agora, é verdade que no Metal Mania, como a gente tocava pra um público que vinha ouvir nossas músicas, tínhamos nosso repertório, mas um dia a gente tocou Iron Maiden, “2 Minutes To Midnight”. Aí ficou todo mundo maluco! Também tocamos “Highway Star”, do Deep Purple. Eu já tocava certas músicas muito tempo antes. Essa coisa do clássico: quem me conhece lá de Recife, sabe que eu sempre mexi com clássico desde que eu tocava em baile! Tocávamos em casamentos, e as pessoas sempre pediam os clássicos pra gente tocar. Aí todo mundo fala assim: “ah, você tem influência do Malmsteen [guitarrista sueco Yngwie Malmsteen]?” Cara, gostaria de ter mais! [risos] Porque ele toca muito, esse cara é um absurdo.

Erick: De fato…

Robertinho de Recife: É um dos grandes guitarristas que apareceram no século. Mas eu não faço os arpejos que ele faz, eu não faço. Ele tem uma mão violenta, grande pra caramba, e minha mão é pequena, não dá pra ficar fazendo isso. Eu nunca sentei pra pegar uma escala dele, mas se você for ver, as escalas que ele usa, como uma harmônica menor, aquelas coisas todas eu uso desde o tempo do meu primeiro disco, Jardim da Infância [1977]. Eu tenho idade pra ser pai desse garoto! [risos] Mas, influências: Randy Rhoads [Ozzy Osbourne e Quiet Riot], esse foi um cara que eu me sentei e copiei nota por nota. E eu posso pegar até alguma coisa de alguém, mas depois eu pinto, modifico e não vai fica a mesma coisa que o cara fez. São coisas técnicas, sabe. É como um lutador e essa coisa do chute. Chute todo mundo dá, né? Mas o Anderson Silva foi um cara que começou a chutar e a ganhar luta, aí todo mundo começou a chutar. É a mesma coisa que o Van Halen e “Eruption”. Quando ouvi aquilo, falei: “vou fazer o meu ‘Eruption’”. E fiz “Voo de Ícaro”, que é o meu “Eruption”.

Erick: É verdade que você foi convidado pra tocar com o Quiet Riot e o Chicago?

Robertinho de Recife: O Quiet Riot é lenda. O que aconteceu foi: um empresário do Quiet Riot era empresário da Lita Ford [The Runaways]. E a Lita estava sem um segundo guitarrista, porque ela é a guitarrista líder. Ele viu o nosso show e falou “você é o cara pra tocar com a Lita, já falei com ela, não tá afim de fazer uma audição?” Mas eu tava com o Metal Mania, falei que não ia deixar os caras pra fazer uma coisa ambiciosa minha, pessoal, tipo selfie. Não sou de selfie, entendeu? Eu tava num time e aquele time era muito importante. O Chicago, foi verdade mesmo. Tinha um cara que tocava com o Chicago e o guitarrista deles tinha se suicidado e tinha uma vaga lá. Eu tava em Recife e tinha desistido de tocar porque tinha falecido um filho meu e minha cabeça tava muito mal. Ele ficou muito doente e como eu tava fora gravando não pude dar atenção e aquilo me deixou muito culpado. Então eu tava péssimo, não podia aceitar nenhum convite.

Erick: Está satisfeito com a formação do Metal Mania e o novo disco, Back For More?

Robertinho de Recife: Eu tô muito satisfeito, porque tudo está sendo uma surpresa. Por exemplo, o seu interesse em fazer essa entrevista, isso é muito bom, porque eu tô fora do mercado, tô fora do cenário.

Erick: Musicalmente, o que você tem feito de diferente?

Robertinho de Recife: Fiz umas apresentações relâmpago com o DJ Dolores e foi muito bom. De início, eu fiquei assim “como é que é?” Meu filho Fhorggio coloca efeitos no Metal Mania, porque eu vejo a música como uma coisa cinematográfica, algumas músicas tem explosões, por exemplo. E ele tem muita influência dos estudos do DJ Dolores, que era lá de Recife e fez coisas com o movimento manguebeat. Então foi muito legal, porque ele tem aquela coisa de pop pernambucano. E aconteceu outra que eu tenho dezoito parafusos no braço e fui fazer o show com o Dolores uns quatro meses depois que eu tinha feito a cirurgia no braço. O médico achou que eu nunca mais ia conseguir tocar. E aquilo foi um desafio pra mim. Eu tava bastante limitado, fiz só o trivial, mas foi uma alegria saber que poderia tocar de volta.

É isso aí, com certeza a música sempre vai nos ajudar a superar os obstáculos. Um detalhe do novo disco é que ele é todo instrumental, certo?

Robertinho de Recife: Exatamente. Só tem aquela música “Back For More” que tem um robô. Eu quero trazer de volta aquele movimento que no Metal Mania é muito isso, o movimento do metal americano, mais do que o metal inglês. Aquele metal de bandas da época como Motlëy Crüe, Van Halen,… [Eddie] Van Halen tá acima de todos. Antes do Van Halen, eu tinha entrado em um esquema muito profissional. Quando eu vi aquele garoto tocando – digo garoto porque eu sou mais velho que ele – com aquela alegria, ele me ensinou uma coisa mais importante do que qualquer nota que ele já tocou: foi a alegria de tocar. Essa chama de curtir a coisa. Não importa se isso vai dar dinheiro ou não. Eu era bem sucedido e gastei tudo com o Metal Mania. Comprei ônibus, comprei equipamento, e fiquei completamente liso. Na época, metal não dava dinheiro.

Tags:, , , , , , , , , , , , , , ,

06/02/2015

Revista NOIZE

Revista NOIZE