A reciclagem sonora do Filarmônica de Pasárgada

19/09/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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19/09/2014

O que é lixo sonoro para alguns, é luxo para o Filarmônica de Pasárgada. As letras e melodias que saem de Marcelo Segreto vão ganhar vida nos ensaios com o demais integrantes da banda paulista que acaba de lançar seu segundo disco gravado no estúdio de Guilherme Arantes, Rádio Lixão.

Arantes não é único fã da música deles. Tom Zé chamou o grupo em 2013 para participar do EP Tribunal do Feicebuqui. O compositor é uma das principais referências da banda, pelas suas canções carregadas de humor e experimentação. Em Rádio Lixão, Tom Zé é diretamente homenageado na faixa “Estudando Tom Zé”, uma brincadeira com sua trilogia Estudando o Samba (1976), Estudando o Pagode (2005) e Estudando a Bossa (2008).

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Agora imagine referências como Tom Zé, Noel Rosa, Heitor dos Prazeres, Tom Jobim e Vinicius de Moraes junto com o axé, funk e um tal de tecno psy. Com tudo isso, não pense que faixas como “Amor e Carnaval” são tão óbvias assim. Preste atenção na letra e saberá que, na verdade, não existe nem amor nem carnaval em São Paulo. Rádio Lixão são recortes musicais desvalorizados pelo nosso país, mas que transformaram em matéria-prima para o Filarmônica de Pasárgada fazer suas colagens inesperadas. Você pode adquirir o seu disco clicando aqui.

Nos dias 19 e 20 de setembro, a banda faz seu show de estreia do álbum no Rio Janeiro, às 21h, no Teatro Oi Futuro Ipanema (Rua Visconde de Pirajá, 54). Os ingressos custam R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada) e estão à venda na bilheteria do local.

Veja abaixo nossa entrevista completa com o principal compositor do Filarmônica, Marcelo Segreto:

Rádio Lixão é recheado de ironias. Por que usar o humor para conversar com o público?

O humor talvez seja uma coisa que é interessante usar porque comunica bem com o público, então quando a gente vai tocar essas músicas nos shows elas são bem recebidas. O humor, ele conquista as pessoas. A gente tenta fazer um humor que não é bobo, mas continua engraçado.

Vocês são uma banda de oito integrantes. Como é convivência: há uma troca de ideias construtiva ou é difícil chegar em um consenso?

Eu acho que são esses dois lados. Por um lado é mais difícil de chegar num acordo, porque é muita gente com várias referências individuais. Mas por outro, a coisa sempre fica mais rica, né? Por exemplo, o Sérgio Abdalla, que é um integrante que entrou depois do primeiro disco, ele toca o Laptop, o instrumento dele é o computador. Ele tem um software que se chama PD, Pure Data, e ele consegue processar o som e fazer vários efeitos diferentes só com o computador. Isso aí já é uma contribuição muito diferente. É raríssimo na música popular ter alguém que toque computador como ele. Isso veio meio que da música erudita contemporânea.

Um dos elementos que ajudou nas composições de Rádio Lixão foi o estúdio do Guilherme Arantes onde vocês gravaram esse disco e o anterior, O Hábito da Força (2012). Como foi essa experiência?

A nossa ideia já era tentar explorar diferentes sonoridades. Então a gente já tinha essa vontade de usar muitos efeitos e timbres diferentes, buscar sonoridades diferentes. Quando a gente foi gravar no Guilherme, a coisa se amplificou muito. Porque o estúdio do Guilherme é um estúdio muito completo. Acho que não existe no Brasil um estúdio que nem o dele que possui tantos instrumentos diferentes e raríssimos. Não só instrumentos, mas equipamentos antigos da década de 70, 80. Equipamentos analógicos que a galera adora, mas que não tem muito acesso. Então, acho que o estúdio do Guilherme deu um impulso ainda maior nessa nossa vontade de tentar trabalhar sonoridades diferentes. Aquele estúdio pro Guilherme é uma coisa muito familiar, sabe? Desde a compra dos instrumentos até a fiação elétrica do estúdio, foi ele quem fez. Então ele trata aquele estúdio como se fosse a casa dele, e é a casa dele.

Como vocês chegaram até o Arantes?

A gente acabou conhecendo ele através do Alê Siqueira, o nosso produtor musical dos dois discos. O Alê morava na Bahia, ele não poderia viajar pra cá, era mais fácil toda molecada ir pra lá, sabe? Aí o Guilherme mora na Bahia e ele tem esse estúdio lá. O Alê indicou que a gente poderia gravar no estúdio dele, nos conhecemos e desde então ele se interessou em lançar o nosso disco pelo selo. E a relação foi se estreitando.

O novo disco é uma reciclagem de sons. Como tudo isso se amarra em um conceito?

Acho que uma das ideias do Rádio Lixão é essa de a gente tentar agregar vários gêneros diferentes, e gêneros, normalmente, tidos como lixo cultural. Então o axé, o funk, o brega, esse meio tecno psy que é a música “Tic Tac”, são todos gêneros muito desvalorizados na nossa sociedade, porque é um preconceito social além de um preconceito musical. E a gente gosta desses gêneros. Então, nesse disco a gente quis valorizar e fazer esses gêneros do nosso jeito.

A mistura de sonoridades é algo que está crescendo em nosso país como uma musicalidade em ascensão. O que vocês acham vocês isso?

É uma coisa interessante da música independente no Brasil em geral. Acho que com a internet as bandas estão conseguindo se divulgar mais e tem essa coisa do barateamento da gravação, a gente hoje em dia consegue gravar um disco muito mais fácil do que 20 anos atrás. Tudo isso tem feito com que bandas e artistas possam ser eles mesmo. Porque antigamente quando não tinha essa possibilidade da música independente ser divulgada mais, como tem com a internet, acho que a pessoa ou se enquadrava na música do mercado ou ela ficava meio esquecida. Acho que hoje em dia a internet, eu sei que é questionável isso, mas por um lado ela possibilita que as pessoas tenham mais acesso à divulgação e você fazer um trabalho que tenha a sua cara e que possa ser minimamente divulgado.

Mais Filarmônica de Pasárgada:
facebook.com/filarmonica.depasargada

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19/09/2014

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