Falcão, brega e de conteúdo

25/07/2014

The specified slider id does not exist.

Powered by WP Bannerize

Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

25/07/2014

A música dele pode ser brega, mas tem referências. Marcondes Falcão Maia nasceu no interior do Ceará, em Pereiro, e era o único menino do município que tinha uma coleção de discos em casa. Mais velho, em São Paulo, Falcão misturou a música brega e nordestina ao rock do Pink Floyd, Led Zeppelin e Deep Purple que foi lhe apresentado na capital paulista, criando um estilo só seu, e muito bem pensado.

Um dos maiores símbolos dos anos 90 no Brasil solta sua voz também em um talk show só seu na TV Ceará, chamado Leruaite. No programa, além de entrevistar convidados o compositor ainda bota pra tocar alguns LPs de sua coleção em uma de suas tantas vitrolas. O vinil é um dos formatos que Falcão quer lançar seu próximo disco, Sucessão de Sucessos que se Sucedem Sucessivamente sem Cessar, que em breve deve estar nas lojas em CD.

*

Sempre tirando sarro dos cornos, Falcão é uma das figuras mais lembradas do brega brasileiro com singles como “Holiday Foi Muito” e “I’m Not Dog No”. Estampas florais e letras escrachadas escondem um cara com sede de conhecimento, origem humilde e consciência política e social. Nós conversamos com Falcão sobre sua carreira e o personagem que o compositor criou para si. Você pode acompanhar o que o cantor anda fazendo pela página oficial do Facebook dele (clique aqui para entrar).

Suas composições são carregadas de humor. Mas há alguma crítica por trás disso tudo?

É verdade. Eu uso a música brega e o humor pra passar uma crítica social, política e de costumes. Eu gosto muito de fazer isso, porque com o humor as pessoas prestam mais atenção. Eu aproveito minhas músicas pra passar alguma coisa que eu acho que é necessária.

Você tem vários discos na carreira, mas os primeiros dos anos 90 mostram um humor mais sem sentido, como o da música “As Bonitas que me Perdoem, Mas a Feiúra é de Lascar”. Por que você começou a escrever letras com esse tipo de humor?

A minha música tem muito de dadaísta, de surrealista, e isso é da onde eu vim e de quem eu vi. O Ceará é um lugar meio maluco, tem um humor escrachado, os moleques são meio nonsense. Então isso tá na minha cabeça desde que eu era criança. Quando eu inventei de ser compositor, eu queria ser um compositor sério, mas quando vi eu tava fazendo esse tipo de música quase que sem querer.

Rir da própria desgraçada é uma característica que você trouxe do humor nordestino?

Ah, isso é uma coisa que nós vivemos, principalmente o nordestino. Tem que rir da desgraçada, porque não tem saída mesmo, não dá pra ficar chorando num canto e se lamentando. A gente tem que rir mesmo e a partir daí se vive muito melhor. Muito mais interessante você rir do que chorar.

O Falcão de cavanhaque, óculos escuro e girassol no paletó é um personagem seu ou é você mesmo?

Eu visto o personagem. A roupa é uma roupa que eu uso só pra fazer show e pra aparecer na televisão. Mas a pessoa Falcão é a mesma que tá lá no palco, só muda a roupa porque todo artista tem uma roupa característica. Então eu uso não só pra chamar atenção para o lado brega, mas pra mostrar que as pessoas podem usar o que der na telha. Não pode ser aquilo que “se não tiver na moda não pode usar”.

Você é uma das figuras mais comunicativas do Brasil, mas um dos motivos pelos quais começou a usar os óculos foi por causa da timidez. Como surgiram os outros elementos do Falcão?

A história do óculos é pura verdade. Eu era só compositor, não tinha me lançado ainda como cantor. Eu não tinha a menor vontade de ser cantor, queria ser compositor e que as pessoas gravassem minhas músicas. Mas ninguém tinha coragem de gravar esse tipo de música na época (risos). Eu torci o nariz e disse “então eu mesmo vou ter que cantar”. E apareceu uma oportunidade em um festival e eu realmente era tímido, ainda sou. Alguém me deu a ideia de me travestir de brega. E eu achei muito legal principalmente pelos óculos, porque você fica escondido ali atrás daquela película, e a roupa já não é tanto para esconder, é mais para aparecer. Foi mais uma homenagem aos bregas como Waldick Soriano e Reginaldo Rossi que eu comecei a me vestir desse jeito. Só que eu exagerei mais do que eles e hoje em dia é uma coisa totalmente diferente deles.

Por ser uma pessoa tímida, como você lidou com a fama quando estourou nos anos 90?

Eu já era um cara mais maduro, tinha uns 30 anos, então já tinha uma certa experiência, um pensamento formado de como seria a minha carreira de artista. E eu quase que nem notei. Comecei como uma brincadeira. Eram meus amigos que curtiam meu trabalho e o pessoal da cidade de Fortaleza que começou a comprar meus discos. Quando estourou no Brasil eu já tava acostumado.

Você tem muitos fãs até hoje por hits como “Eu Não Sou Cachorro Não” e “Holiday Foi Muito”. Você acredita que isso acontece porque o público se identifica com a sua música ou porque você faz as pessoas rirem com as letras cômicas?

O povo brasileiro gosta do lado criativo e de sinceridade. Como eu sou um artista que não foi inventado, não foi fabricado, esse povo nota que tem sinceridade e curte muito e fica esperando que eu lance alguma coisa. Todos os discos que eu lancei fizeram sucesso, sempre tem alguma música que o povo curte muito, porque é assim que eles estão esperando que eu faça.

Quando você morava em Pereiro, era o único menino da cidade que tinha uma vitrola em casa. Ainda mantém uma coleção de discos de vinil em casa?

Sim, tenho muito vinil e agora tenho mais vitrolas! Eu sou colecionador de vitrolas, eu tenho umas sete ou oito lá em casa (risos). Inclusive, no programa de TV que eu tenho lá no Ceará [Leruaite], eu boto elas em cima da mesa e boto os vinil pra tocar lá. Eu adoro aquele som. Um som muito mais quente, né? Envolvente (risos).

E como será seu novo disco, Sucessão de Sucessos que se Sucedem Sucessivamente sem Cessar?

São treze músicas inéditas dentro daquele mesmo esquema de quanto pior, melhor, né? São novas composições naquele velho formato. Ele ainda tá na fábrica, mas acho dentro de alguns dias ele já deve estar nas paradas de ônibus, paradas cardíacas e tudo quanto é parada!

Tags:, , , ,

25/07/2014

Revista NOIZE

Revista NOIZE