Fotos: Marcelo Rossi
O que seria da história do rock sem os fotógrafos para ajudar a contá-la?
Marcelo Rossi trabalha com registro de bandas há mais de 20 anos. Foi na segunda edição do festival Hollywood Rock, em 1990, que começou a despertar seu desejo por congelar aqueles momentos incríveis que só um show rock possibilita. Na edição seguinte, com uma câmera emprestada, Rossi tirou suas primeiras fotos de shows que acabaram sendo publicadas, e ali ele teve a certeza de que era aquilo que ele gostava de fazer e era ali, assistindo aos seus ídolos, que ele gostava de estar.
Com a profissão, Rossi teve a oportunidade de conhecer e conversar com alguns gigantes da música. Alguns até se tornaram seus amigos íntimos, como Marky Ramone (Ramones), Dizzy Reed (Guns N’ Roses) e Bruce Dickinson (Iron Maiden). Mesmo assim, o fotógrafo nos contou que toda vez que ele se reencontra com o amigo Dickinson pergunta “Você lembra de mim, né?”. A resposta do líder de uma das maiores bandas de metal do mundo também é sempre a mesma: “Claro, porra!”.
Durante sua carreira, Rossi já teve que fotografar shows que ele nem veria se não fosse pelo trabalho necessário para sobreviver. Mas hoje em dia, felizmente, ele pode registrar só o que gosta. Pagode, axé? “Eu não fotografo de jeito nenhum”, comentou ele. Rossi tem um catálogo com diversas fotografias históricas de bandas nacionais e internacionais e alguns registros que só ele fez. Na nossa conversa, pedimos para que ele contasse a história por trás de algumas de suas fotografias. O resultado você confere logo abaixo.
Pedreira Paulo Leminski, Curitiba, 1994
Aquele ano [1994] teve esse festival que foi bem bacana, com Ramones, Viper, Raimundos e Sepultura. Antes teve AC/DC [1996], que eu fui lá também, Teve Pearl Jam [2005], que foi a última vez que eu fui lá antes de fechar. Logo depois a pedreira fechou. Eu conheço todos eles [do festival de 1994]. O Marky Ramone é meu amigo pessoal até hoje. O Viper é uma banda que eu acompanhei a vida inteira, são meus amigos pessoais. O Sepultura e o Raimundos também. São todos amigos. Eu já caminhei muito com eles. [O Marky] chega no fim do mês de abril, pra fazer uma turnê pelo Brasil aí. Eu conheci ele num show do Ramones há muito tempo atrás. Eu fotografei o show e aí a produtora me disse que ele queria lançar um disco solo e não tinha ninguém pra ajudar ele. Aí eu fui conversar com ele e nessa ocasião eu virei meio que um empresário dele aqui no Brasil. Eu cuidava das coisas dele, lançamos o disco dele, o “Marky Ramone & The Intruders”. Daí ele começou a ter a carreira solo dele.
Marky Ramone e Marcelo Rossi pelas ruas de São Paulo em 2001
Jimmy Page e Robert Plant, Rio de Janeiro, 1996
Foi na época do lançamento do Page and Plant. Eles foram dar uma entrevista coletiva… na verdade não era coletiva, era exclusiva. Foi uns quatro jornais e revistas e eu fui representando a Rock Brigade, uma revista aqui de São Paulo. Aí a gente sentou em uma mesa, eu, eles dois e a repórter, e ficamos conversando naquela visual paradisíaco do hotel quase na Barra [Rio de Janeiro]. A gente ficou entrevistando e batendo papo com eles e depois eu pedi pra fazer essas fotos e eles posaram pra mim. Algumas fotos eu divulguei, outras eu guardei. Eu já tinha conhecido eles no Hollywood Rock. Eu tava no hotel, teve uma entrevista coletiva depois eu fiquei por lá. O Dinho, do Capital Inicial, foi entrevistar pra MTV o Robert Plant, e a gente ficou amigo, assim. Começamos a conversar e ele [Plant] pediu “oh, vem comigo!” Eu andei com ele pelo hotel e por outros lugares, ele pediu pra eu tirar umas fotos. Eu fiquei uma tarde inteira com ele andando.
Metallica, Lollapalooza West Palm Beach, 1996
Foi nos Estados Unidos, em West Palm Beach. Aí a gente chegou mais cedo [no Lollapalooza], porque tinha umas entrevistas marcadas. Eu fui com o dono da rádio da 89 FM. Teve a entrevista coletiva e alguma exclusivas, a gente conseguiu ir em uma exclusiva. Aí fomos pro quarto do Kirk Hemmett e depois fomos falar com o Jason Newsted, que era o baixista na época. Esse foi o Lollapalooza que também teve Ramones, Soundgarden, Rage Against the Machine… foi uma das melhores edições. E eu fui pra lá fotografar também. Eu já tinha estado com o Metallica quando eles tocaram no Palmeiras [1993, São Paulo]. Eu tava com o Viper, que abriu pra eles. E a gente foi no camarim com eles tirar foto.
Marcelo Rossi fez a cobertura fotográfica da turnê By Request do Metallica, 2014
Bruce Dickinson, 1999
Esse ensaio foi pra uma capa da Brigade. Foi aí que a gente ficou mais conhecido e ele me convidou pra fazer a turnê [“Scream From Me Brazil”]. Eu sou uma referência há anos pros gringos. Então quando um artista gringo ele pergunta sobre um fotógrafo brasileiro, eu sou a primeira indicação. Então na maioria das vezes eu já sou recomendado pros artistas e produtores. Outro dia veio um produtor falar comigo “Um Tommy vai falar com você porque ele quer te contratar pra um show do KISS”. Tudo bem, né, vamo lá. Aí comecei a conversar com o cara e quando eu vi era o próprio guitarrista do KISS, Tommy Thayer!
Marcelo Rossi e Bruce Dickinson durante sua turnê solo “Tour Scream For Me Brazil”
Ozzy Osbourne, 1996
Eu encontrei com ela pela primeira vez quando ele veio pro Monsters of Rock em 96. Ele ia receber umas pessoas [Meet and Greet] e ficamos eu e ele numa sala só esperando as pessoas. Aí eu tirei essa foto da mão dele. Mas o Ozzy, assim, você não fica amigo dele. Pelo menos não um pobre mortal como eu. A gente se viu diversas vezes, mas não sou amigo nem conhecido dele. Essa última vez, ele foi muito mais amistoso comigo. Tanto que a gente conversou um pouco, levei uma montagem que eu fiz dele e ele gostou bastante. Ele tava super descontraído, tem umas fotos que ele tá rachando o bico do meu lado.
Guns n’ Roses, Rock in Rio II, 1991
Estas fotos do Guns n’ Roses tirei no Rock in Rio II. O Guns fez dois dias de show e os fotógrafos tinham direito a fotografar uma música defronte a um palco muito alto, com aproveitamento zero. Depois disso os seguranças truculentos do Guns e do evento botavam a gente pra fora sem direito a nem ver o show. Claro que eu não concordei, e dei um jeito de voltar pra dentro do maraca, passando por porões, catacumbas, até chegar a uma parede falsa de uns 30 centímetros de largura, onde fui me espremendo até sair dentro de um anel do estádio. Corri pra tentar fotografar alguma coisa da pista. Detalhe: havia 120.000 pessoas no estádio esse dia. Esta sequência de fotos é um “troféu”, pois só eu sei o que passei pra tirá-las! Enjoy!
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