Lucas Santtana canta nosso passado/presente/futuro

06/09/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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06/09/2014

Se O deus que devasta mas também cura (2012) é um disco bem pessoal, Sobre Noites e Dias já aborda o cotidiano geral, onde o passado e o futuro convivem juntos no presente. Esse é o disco que Lucas Santtana acaba de lançar no qual, em uma metáfora que remete ao nosso dia a dia, o orgânico convive com o eletrônico dos sintetizadores.

Pra quem ficar com vontade de ouvir o disco ao vivo, hoje (dia 6 de setembro) é a estreia dele às 21h no Sesc Vila Mariana, em São Paulo. Os ingressos estão à venda na bilheteria do local por R$ 24 (inteira). Hoje, o show vai contar com a participação especial do baixista Bi Ribeiro (Paralamas do Sucesso), que também aparece no disco. Amanhã, tem mais uma sessão de Lucas Santtana no Sesc Vila Mariana, às 18h, com a participação do trio Metá Metá: Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França.

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O lançamento do álbum teve a ajuda do crowdfunding que Lucas Santtana lançou pela plataforma Embolacha. Entre as contribuições musicais de Sobre Noites e Dias estão MC De Leve, o quarteto de cordas Oslo Strings, Juliana Perdigão, Kiko Dinucci, Thiago França, e as atrizes Fanny Ardant e Camila Pitanga.

Veja abaixo nossa entrevista com Lucas Santtana sobre seu caminho até chegar na concepção do disco e essa história toda de passado, presente e futuro.

Sobre Noites e Dias parece falar sobre um futuro que já está aqui. Desde quando você vem pensando nessa ideia?

Esse disco ele nasceu na estrada quando a gente fez a turnê na Europa no verão do ano passado. Eu fiz uma banda eu, o Bruno [Buarque] e o Caetano [Malta], uma banda menor e acabou que essa sonoridade acabou unificando o som do disco. Por conseguir chegar nessa sonoridade e também por ser uma formação meio andrógena, tem uma mistura de instrumentos da música pop com uns mais de agora eletrônicos. A partir disso que eu fui fazer as músicas. Eu fui fazendo sem pensar em um conceito, então quando eu acabei de fazer eu fui olhar as letras de novo, com um distanciamento pra entender. Aí eu percebi que ele falava dessas crônicas desse momento agora que a gente tá vivendo. É um olhar sobre algumas coisas. Fala sobre máquina. Fala, como você falou, que de alguma maneira a gente vive o futuro no nosso presente, porque a gente sempre pensa o futuro aqueles filmes de ficção científica ou os Jetsons. A gente sempre tem essa ideia de um futuro idealizado. Mas, na verdade, muito daquilo a gente já tem hoje, só que não é igual aos filmes. Você entra em um avião tem uma tela, você entra em um táxi tem uma tela. Isso é muito ficção científica, mas como já foi absorvido por grande parte da população, passa a ser uma coisa do cotidiano.

Um dos temas atuais que o disco traz, na música “Funk dos Bromanticos”, é essa nova geração que não está preocupada em pegar homem ou mulher, mas apenas amar. Sei que você tem um filho, que até participou do seu álbum anterior. Já é do universo dele o que é cantado na música?

Cara, o Josué tem 11 anos, vai fazer 12 esse ano. Agora na escola, tá começando a despertar o interesse dos meninos pelas meninas e vice-versa. Então estamos no começo desse processo ainda. Eu e a mãe dele, a gente quer sempre demonstrar pra ele que somos amigos dele e que ele tem abertura pra falar qualquer coisa a gente.

Ele participa de alguma forma desse disco?

Não, não. Nesse disco, eu lutei pra ele gravar um sintetizador de uma música, mas ele não quis de jeito nenhum. Fiquei puto com ele (risos).

O Josué também aparece nas inspirações desse disco ou Sobre Noites e Dias é um registro menos pessoal que o anterior?

O deus que devasta mas também cura foi um disco bem diário, bem na primeira pessoa. Foi um disco que eu fiz pra falar do que eu estava vivendo. Esse não, esse já é mais cronista, como se eu fosse uma pessoa de fora observando. Também tem canções amorosas, mas mesmo nessas têm essas comparações e citações de coisas do nosso tempo, de ciência e tecnologia.

O álbum tem essa parte mais amorosa, ali nas faixas “Alguém Assopra Ela” e “Partículas de Amor”. Mesmo em tempos de amores mais livres, você acha importante manter valores visto como “antigos” como o romance?

Acho que tudo pode conviver no mesmo tempo, como o vinil e o MP3 convivem. Eu fui casado 11 anos. Eu adorava ser casado, mas hoje não sou mais. Mas eu sou super romântico, adoro namorar, sou totalmente dessa onda antiga. Mas ao mesmo tempo eu acho lindo esses meninos terem esse desprendimento em relação ao sentimento.

O Sobre Noites e Dias foi um dos discos mais rápidos que você gravou, mas ao mesmo tempo ele é bem preenchido com vários sons. Como foram as sessões de gravação?

Esse foi um disco que eu gravei muita coisa. Fui um disco que eu fiquei meio “fominha”. Nunca tinha feito isso de querer gravar baixo, de gravar guitarra, até bateria eletrônica eu gravei numa faixa. Então, da minha parte era muito rápido, porque eu fico fazendo em casa. Você meio que faz a qualquer hora do dia e da noite. Deu vontade, inspiração, você vai lá. E eu faço muito rápido essas coisas, porque eu fico muito intenso fazendo isso. Quando a música já tá bem adiantada, eu chamo os amigos pelas características de cada um que eu sei que vai potencializar a música. Já convido eles com um direcionamento, assim, exatamente o que tá faltando na música. Depois trago tudo pra minha casa e fico editando.

Mesmo a gente vivendo em um mundo super futurístico e moderno, a nossa sociedade ainda parece continuar atrasada em alguns sentidos. Essa crítica também aparece de algum jeito em Sobre Noites e Dias?

Você falando assim, na “Montanha Russa Sentimental” a gente fala uma hora que toda essa troca rápida de afetos, esses milhões de likes e dislikes, no fundo escondem uma imensa carência de todo mundo, um imenso vazio. E o consumismo também é um pouco isso, esse imenso vazio que todo mundo fica procurando tapar com mil coisas. Esse é o buraco do “ser ou não ser”, do existencialismo mesmo, né. “O que eu tô fazendo aqui?”, “Pra o que eu vim?”, “Quem sou eu?”. Esse é o tipo de pergunta que você vai fazer a sua vida inteira, porque você vai estar sempre em mutação, e o mundo também. E as relações que você tem com seus amigos, com seu namorado, com sua esposa, com seus pais estão o tempo inteiro em transformação.

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