Filtro cinza n’O Terno

27/08/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

27/08/2014

Fotos: Ariel Fagundes

O tom de tiração de sarro d’O Terno ganhou um filtro cinza nas faixas do novo disco homônimo da banda paulistana formada por Tim Bernardes, Victor Chaves e Guilherme d’Almeida. Foram acrescentados sons psicodélicos e mais fuzz aos arranjos sessentistas de 66 (2012), em um registro cheio de texturas e camadas sonoras.

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Com letras da época de 66 e outras mais recentes, é o primeiro álbum totalmente autoral da banda. Se por um lado o anterior foi gravado despretensiosamente, este segundo disco foi pensado para ser ouvido com atenção nos timbres e detalhes. O surrealismo presente na capa do disco, feita por uma amiga do trio, permeia as faixas também, mesmo que elas falem sobre temas mundanos. Aos poucos, O Terno vai construindo e nos levando para sua casinha flutuante, onde o humor precisa de arranjos complexos e melodias acinzentadas para se manter interessante.

Conversamos com o trio antes do show de lançamento do disco que realizaram em Porto Alegre no dia 25 de agosto. A resenha da apresentação está logo abaixo da entrevista que tivemos com eles.

Uma das referências desse novo disco é o som do Tame Impala. O que viram nos dois shows que foram da banda que fez vocês prestarem atenção na música deles?

Guilherme: O disco já tinha sido bastante impressionante pra gente e o show é outra brisa. Eu lembro de passar uma semana depois do show com a sonoridade dentro da cabeça.

Tim: O primeiro show foi para abrir os olhos pra banda e começar a pesquisar que nem louco. O segundo show foi bem impressionante como músico, de abrir a cabeça como músico: formato de show, como você pode evoluir como banda, o que você pode usar ao vivo de timbre e de equipamento, no que o ao vivo vai além do CD,…

Victor: Um show pensado como um show mesmo, com começo, meio e fim tudo interligado. Com momentos que no disco o arranjo é de um jeito e aí no show eles só fazem uma parte da música. Eles vão desenhando. É bem conciso e bem pensado como show mesmo. São poucas paradas, poucas falas no meio. Você vai viajando junto.

Tim Bernardes

Tim Bernardes

O primeiro disco, 66, vocês gravaram em dois dias. Esse novo, foram 20 dias de estúdio. Como foi a experiência e o que mudou no processo de composição e gravação com isso?

Tim: Acho que como o primeiro a gente tinha o repertório e já o tocava em shows, a gente aceitou a empreitada de gravar em dois dias e registrar o nosso som tocando ao vivo. Do primeiro pra agora, a gente ficou cada vez com mais vontade de fazer coisas que só daria para fazer com tempo de estúdio. Quando a gente foi conversar com o Gui do estúdio [Canoa], já fomos pensando que a gente gostaria de gravar com mais tempo pra mixar, pra gravar pelo menos uma música a cada dia. Foi bem mais trabalhado.

Mesmo este último disco sendo mais produzido que o primeiro, ele mantém a sonoridade suja em algumas faixas com fuzz nas guitarras, por exemplo. O que atrai vocês nesse tipo de som?

Victor: A sonoridade se mantém um pouco do ao vivo. A maioria das músicas a gente gravou a base nós três na mesma sala tocando juntos, pegando bastante essa energia de tocar em trio, e depois colocando overdubs e preenchendo com efeitos.

Tim: A sonoridade suja não é uma coisa que a gente tocando os três em uma sala fica lo-fi e a gente produzindo, tocando um instrumento de cada vez, não vai ficar, né? O lance de ter a continuação da sonoridade sujona, fuzz, é porque a gente curte esse som e às vezes se o fizer produzido você acaba chegando em um som mais trash ainda do que teria se tivesse tentando gravar trash.

Guilherme d'Almeida

Guilherme d’Almeida

Do ano passado para cá, vocês criaram junto com outras bandas paulistanas o coletivo e selo Risco. Como isso influenciou em O Terno?

Guilherme: Todos os últimos discos das bandas do Risco foram gravados no estúdio Canoa. E não tinha um dia na gravação que não passasse alguém de outra banda porque precisava pegar um negócio. “Gui, rapidinho, me dá a base de tal música!”.

Tim: Todo mundo já tinha gravado na salinha do lado do estúdio, então estava cheia de baterias e a gente “Vamô pegar o bumbo do Charles!”.

O Terno é o primeiro disco totalmente autoral de vocês. Mas 66 deve ter um papel importante no desenvolvimento do trio como músicos, certo?

Tim: O jeito que a gente chegou pra gravar um disco autoral por causa do 66 foi totalmente diferente. O 66, mesmo não sendo totalmente autoral, ele chamou atenção e fez a gente rodar e tocar bastante.

Victor: A gente chegou pra gravar o disco [66] já com as músicas prontas. Mas foi com o 66 que a gente foi descobrindo como arranjar as nossas músicas que foram escritas pelo Mauricio Pereira [pai de Tim Bernardes]. A gente pegou as músicas dele com liberdade pra fazer o que quiséssemos, daí a gente ficou destruindo as músicas, no bom sentido, e pensando em maluquices e com isso fomos vendo como arranjar nossas próprias músicas.

Tim: É como se a gente tivesse feito segundas versões para nossas músicas. A gente pegou as músicas do meu pai, que já tinham uma versão, e mudamos tudo. Então quando a gente foi fazer nossas próprias músicas, a gente tinha esse pensamento de saber qual seria o arranjo, aí destrói esse arranjo e faz ele sem chão de cara.

Victor Chaves

Victor Chaves

Os três têm coleções de discos de vinil em casa. Se pudessem escolher um LP que influenciou cada um para compôr e gravar O Terno, qual seria?

Guilherme: Eu não tenho esse disco, mas ele [apontando para Tim] tem! O do Foxygen que se chama We Are the 21st Century Ambassadors of Peace & Magic [(2013)]. Ele chegou um pouco antes da gente gravar o disco e tem uns lances de composição, de timbre de baixo, de linhazinha, de efeitinho, negocinho de reverb no canto… foda.

Tim: Eu sempre fico nesse disco, mas cada vez que eu ouço, eu ouço de um jeito. Me pegou muito na época o disco do Pet Sounds [(1996), do The Beach Boys] o lance das sonoridades, dos timbres.

Victor: O primeiro disco do Fleet Foxes, que se chama Fleet Foxes [(2008)], por causa do jeito do baterista arranjar e pensar a bateria como um instrumento melódico, e não só rítmico, e a música como um todo, os arranjos vocais.

Opção face 2

Uma razão para uma boa segunda-feira
Por Pedro Jansen

O show da O Terno não poderia ser mais querido. Eles não querem ser malvadões, sapecas, sujos, bêbados ou inconsequentes. Não se jogam na plateia, não gritam com quem tira foto, não pedem silêncio, não reclamam do som, não erram um nota que seja.

O show da O Terno é uma chatice? Ah não, mas muito pelo contrário.

O show da O terno é um primor. É leve no repertório, é simples na estrutura, no figurino e na ambientação (inexistentes). É tudo focado na: excelência. Eles tocam, riem, divertem e se divertem. Não tem mais muito além disso. E o que mais a gente pode querer de um show em plena segunda feira? Ou qualquer show, independente do dia em que ele aconteça?

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Quando falamos desse tipo de coisa, parece que a resposta mais esperada é que queremos grandes estruturas, iluminação crazy, figurinos, muitos instrumentos, efeitos de luz e som.

Nesse show no Opinião dessa segunda, a banda tocou músicas de seu segundo disco, divertido e cheio de manha. As referências à jovem guarda ainda estão lá e foram amplificadas por mais destreza nos instrumentos, nos efeitos e nas letras que do seu primeiro disco.

Que espetáculo, senhoras e senhores. Encontrei na plateia uma conhecida que havia apostado no show, muito embora não conhecesse nada da banda. “Nossa, Pedro, tô encantadíssima, que banda é essa!?”. Pois é… Se eu fosse você, ia assistir.

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27/08/2014

Revista NOIZE

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