O flow de Sombra

15/05/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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15/05/2014

O rap não precisa falar apenas de temas pesados e ser avesso a outros sons regionais.

Sombra é um cara que sabe disso e está na estrada há um bom tempo, ao lado do lendário grupo paulistano Somos Nós a Justiça, que deixou em 2004 para seguir carreira solo. O primeiro registro veio em 2008 com o disco Sem Sombra de Dúvidas. Mas estamos aqui pra falar de Fantástico Mundo Popular, novo álbum de Sombra e um dos melhores lançamentos de 2013.

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Além da produção de Marcelo Cabral (o mesmo de Nó na Orelha, de Criolo) e participações como Jorge Du Peixe e Rael, ainda tem as diversas sonoridades brasileiras que conversam com as batidas do afrobeat e do rap nas faixas. A capa do Fantástico Mundo Popular exemplifica a pluralidade do disco.

Fora o instrumental plural e as letras bem-humoradas, Sombra também se diferencia pelo seu flow peculiar. Essa fluidez de seus raps foi um dos assuntos que tratamos com ele. Fantástico Mundo Popular está disponível para download gratuito clicando aqui, mas se você quiser dar uma força pro rap nacional, pode comprar o disco por R$ 9,49 no site do ONErpm.

Dá o play abaixo enquanto curte a nossa entrevista com Sombra:

Seu disco Fantástico Mundo Popular está sendo lançado pela internet também. Você acha que com a internet o rap está ganhando mais visibilidade ou os outros estilos musicais ainda têm mais espaço?

Os outros gêneros musicais ainda têm mais destaque, mas outras camadas sociais começaram a prestar mais atenção no rap e isso fez com que o hip hop ganhasse mais espaço também. Aos poucos, o hip hop foi sendo reconhecido para além da periferia até chegar aos ouvidos de pessoas interessadas em fomentar a cultura do rap como entretenimento e conteúdo.

O trabalho com o Somos Nós a Justiça influenciou de alguma forma no Fantástico Mundo Popular?

Com certeza. O trabalho com o SNJ influenciou tanto no meu primeiro disco quanto no segundo e, certamente continuará a influenciar nos meus próximos projetos.

Como foi trabalhar com Jorge Du Peixe?

O Jorge Du Peixe eu conheci por intermédio do Cabral e do Bozzio, produtores do Fantástico Mundo Popular. Nós entramos no estúdio na mesma época, quando ele começou a trabalhar a gravação do disco do Los Sebosos. Nós fomos apresentados e o Cabral e o Bozzio disseram que o meu disco tinha muita influência de ritmos regionais, inclusive de Nação Zumbi. Além do nome em comum, descobrimos que tínhamos outras coisas semelhantes e ele topou participar de uma faixa do álbum, junto com o Rael, que é a “Mano Eu Vou Ali Comprar um Chá”. De lá pra cá, a gente vem mantendo contado e nos encontrando em alguns bastidores.

Quais são as características que tu considera importantes para um rap fluir bem?

Eu acho que o mais importante é pensar em um tema que ainda tenha sido pouco explorado, tanto em letra, quanto em melodia e breakbeat. Esses são os elementos musicais mais importantes dentro do hip hop.

Como foi misturar tantas sonoridades brasileiras diferentes no Fantástico Mundo Popular?

É uma coisa que vem de um longo tempo. Quando criança, eu sempre ouvi muita música regional diferente: samba, forró, repente e, claro, hip hop. Isso vai ganhando força conforme você vai crescendo, amadurecendo e aprendendo a misturar com outros estilos que a gente passa a ter mais familiaridade. A gente acolhe aquilo que a gente mais gosta e vai adaptando para o nosso rap. O Fantástico Mundo Popular é uma mistura de muita coisa que eu ouvi ao longo da minha vida e percebi que era bom.

Você participou de alguma forma da concepção da ideia do clipe de “O Homem Sem Face”? E como foram as gravações do vídeo?

O clipe foi pensado em conjunto, desde a escolha do figurino até o local escolhido, porque estávamos na dúvida entre as dunas de Cabo Frio ou de Natal. Acabamos optando por fazer em Cabo Frio porque era mais perto, teríamos um custo mais baixo e mesmo assim teríamos um cenário que remetesse ao local que um sultão vive.

Você lançou o Fantástico Mundo Popular ano passado, mas faz rap desde os anos 90. Percebe alguma diferença entre o rap que se faz agora e o rap dos anos 90?

Sim, com certeza. Nos anos 90, o rap era mais compromissado com temas políticos e abordava sobre racismo, preconceito e desigualdade social. Nos últimos anos, muita coisa vêm acontecendo no Brasil e na gringa e talvez por isso, os assuntos tratados nas músicas tenham outro enfoque. Apesar de todos os assuntos tratados nas décadas passadas ainda serem bem atuais, é possível fazer música mais descompromissada com esses temas e que são bons em entretenimento. Talvez esse tenha sido um dos motivos pelo qual a imprensa também tenha dado mais atenção a esse estilo musical. É possível fazer rap e falar de amor, de festa, de diversão, de piadas etc.

Existe um movimento no rap que não aceita que “playboy” faça rap e cante sobre temas da periferia. O que você acha sobre isso?

Eu acho que cada um canta o que pensa e o que sente. Na minha opinião, o rap é muito maior do que a posição social ou mordomias que a pessoa tenha tido. Isso não quer dizer que essa pessoa não possa cantar rap. Ele pode cantar rap falando da realidade dela.

O que você acha da próxima Copa do Mundo ser aqui no Brasil?

Eu acho que ter uma Copa do Mundo no Brasil é importante, mas não nesse momento, em que não temos infraestrutura e cuidado com o país que há tempos está abandonado. Não temos infraestrutura para receber os turistas porque o transporte público nunca foi de qualidade. Não temos hospitais públicos que tratem o ser humano doente com dignidade e muitos outros problemas sociais. É muita verba pública sendo gasta para um evento que vai durar apenas um mês e que poucas pessoas, de fato, vão poder participar disso.

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15/05/2014

Revista NOIZE

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