Projota sem medo

28/06/2013

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

28/06/2013

Foco, força e fé. As palavras que José Tiago Sabino Pereira tem tatuadas no braço é um resumo dos pilares que norteiam o trabalho do rapper paulistano, que há anos adotou o codinome Projota para assinar os seus discos. O mais recente deles, a mixtape “Muita Luz”, foi lançada recentemente e reflete, através de músicas pesadas e críticas, a maturidade do cantor e compositor.

O sexto trabalho de Projota é, novamente, um apanhado de colaborações e de participações especiais. E tudo isso será colocado no palco no próximo domingo, dia 30 de junho, no Carioca Club. Mais informações sobre o show de lançamento de “Muita Luz” aqui.

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E foi para falar sobre o disco e sobre o atual momento do rap no Brasil que Projota atendeu a nossa ligação:

Para começar, vou fazer para você a mesma pergunta que eu fiz para o Rael tempos atrás. O rap deixou de ser um estilo de música underground para se tornar uma das forças da nossa MPB. O que você pensa sobre isso?

Eu acho interessante, já que pouca gente percebe isso. Há tempos atrás, eu me chamava de underground, mas underground dentro do próprio rap. O que aconteceu foi a internet. A cena mainstream é totalmente dependente do rádio, mas a internet veio exatamente para dar para a gente uma oportunidade de aparecer. E o sucesso foi tanto, na redes sociais e no Youtube, que chegou uma hora que os veículos mais tradicionais, como a própria TV, não conseguiram mais segurar isso. A demanda era muito grande, muitas pessoas ouvem muito rap, que o estilo começou a aparecer e hoje está aí.

“Muita Luz” é o seu sexto trabalho. O que há de diferente nessa mixtape? O que há nela que não existia nos seus trabalhos anteriores?

Eu não sei dizer exatamente o que é diferente. O que eu sei é que eu estou num caminho bom, uma crescente muito boa. Uma coisa relacionada à maturidade, ao meu desenvolvimento enquanto compositor mesmo. Eu acredito que desde o primeiro trabalho eu venho crescendo, aprendendo coisas novas. Hoje a minha música tem uma linguagem mais adulta. E eu fui ficando um pouco mais pesado também, já que essa é a principal característica da mixtape, de ser bem pesada. E eu falo bem menos sobre mim e mais sobre o mundo em “Muita Luz”. É como se eu saísse de um assunto mais pessoal para apontar os problemas da nossa sociedade. Estou muito feliz com a mixtape.

Uma das músicas mais curiosas da mixtape é “Fatality”, escrita só com palavras com a letra F. De onde surgiu a ideia?

Como eu tenho essa coisa do “foco, força e fé” meio que como uma filosofia de vida, me disseram que eu tinha que fazer um rap só com a letra F. Isso é um lance que eu tenho dentro de mim, tatuado no meu corpo, e meio que virou uma marca registrada. Já tinha um rap com tudo com T, já tinha um rap do Inquérito com tudo com N. Então, eu já sabia que era possível fazer um rap inteiro com uma letra só. E quando eu peguei para escrever essa letra, nem demorei muito, foi uma horinha só. Fiquei muito feliz com o resultado, porque a rimas estão todas ali e há um contexto maior nas linhas da música. E uma ideia importante também.

A sua mixtape tem 19 músicas e uma série de produtores e participações especiais. É possível manter uma identidade do seu trabalho, uma identidade própria, mesmo trabalhando com tanta gente diferente?

Mesmo que exista produtores diferentes, fui eu que escolhi a batida de cada uma das músicas, né? Então tudo tem a ver comigo. O que une uma produção à outra sou eu, o meu gosto. Eu acho que acaba não ficando uma coisa diferente da outra, porque quem conhece o meu trabalho e ouvir a mixtape inteira vai pensar: “isso tem a cara do Projota”. É mais ou menos assim que rolam as coisas, mesmo com um monte de parceiro. Eles sempre me procuram quando uma batida tem a minha cara. E isso me possibilita trabalhar com um monte de gente, conhecer várias pessoas. Sou totalmente aberto e estou sempre fazendo parcerias com uns moleque aí, não só com os hitmakers.

Você é um dos rappers que mais tem feito shows pelo Brasil nos últimos tempos. Na sua opinião, o que é mais importante hoje em dia: ter músicas prontas num CD ou fazer shows?

Eu acho que as duas coisas. Você precisa ter músicas para ser chamado para fazer shows. E você precisa fazer shows para poder continuar fazendo música. Sem show você não se sustenta, as pessoas esquecem o seu trabalho. E, no meu caso, é quando eu toco ao vivo que eu vendo os CDs. É por isso que eu digo que o importante é estar na rua, estar participando da cena. Eu me lembro de quando gravei o primeiro EP e comecei a viajar, eu vendia muito nos shows. Eu tocava para 400 pessoas e vendia, sei lá, 250 CDs. O negócio é fazer o show e incentivar que as pessoas levem a música para casa. As duas coisas separadas não funcionam.

A mixtape encerra com uma música dura, “Eu Sou um Problema”, que levanta muitas questões e que ficam em aberto. O Projota ainda tem muito que falar?

Pô cara, com certeza. Eu já estou até produzindo. Depois que saiu a mixtape “Muita Luz”, eu já devo ter feito umas cinco músicas. Elas não estão prontas, mas estão quase lá, porque eu já tenho todos os esqueletos. A verdade é que eu não paro. Confesso que nos outros CDs, quando eu terminava, me dava um medo. “Será que eu ainda tenho alguma coisa para falar? Será que eu vou conseguir fazer mais música?”. Todo ano eu passava por isso. Mas eu fui percebendo que mesmos aqueles temas que e eu abordei lá atrás eu poderia abordar novamente, de um outro jeito, a partir de um conhecimento que eu adquiri nesse meio tempo, saca? Então, isso vem renovando os assuntos. Hoje eu acho que é possível continuar sim, só precisa você querer. A coisa nunca acaba.

(Foto: Gabriel Wickbold)

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28/06/2013

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