30 anos de Replicantes

10/12/2013

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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10/12/2013

Dia 9 de dezembro foi um dia histórico para o punk brasileiro. Pela primeira vez, reuniram-se no mesmo palco todos os Replicantes: Cláudio Heinz, Heron Heinz, Wander Wildner, Carlos Gerbase, Luciana Tomasi, Cleber Andrade e Júlia Barth. Isso porque esse ano a banda comemora 30 anos de carreira.

Em um set-list com mais de 40 músicas, o show contou com grandes clássicos da banda, como “Nicotina”, “Surfista Calhorda” e “Festa Punk”. A apresentação começou com a formação atual, com Júlia nos vocais e Cleber na bateria, e em seguida foram subindo ao palco Wander, Gerbase e Luciana.

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Do início ao fim, em um Opinião lotado, eles tocaram como se tivessem 20 e poucos anos de novo. A festa punk foi tão grande que o baterista e também vocalista Gerbase se atirou no público e entrou na roda punk junto com os fãs. A plateia queria mais depois de “Festa Punk” e os Replicantes acabaram estendendo seu set-list e fecharam a noite com “Hippie, Punk, Rajneesh”.

De 83 pra cá, o grupo passou por mudanças na formação, mas sem nunca deixar Os Replicantes acabar. Quem está do início até hoje são os irmãos Cláudio e Heron Heinz. Para contar as três décadas da banda, nós conversamos com três Replicantes sobre cada fase do grupo. Começamos entrevistando o Heron sobre os anos 80, depois fomos conversar com Gerbase sobre os anos 90 da banda e por último falamos com Cleber sobre a fase atual dos Replicantes. As entrevistas completas você confere logo abaixo.

Como foi o início da banda nos anos 80 pra você?

Heron – No início dos anos 80 eu trabalhava na PROCERGS [Cia. Processamento Dados do Estado Rio Grande Sul] e eu era novo e era um emprego estressante. Eu era programador, era um troço bem puxado. Chegou uma hora que eu enchi o saco e larguei. Até meus pais ficaram bem chateados e surpresos, não entenderam muito bem o porquê. E logo depois a gente fez a banda. Pra mim o início dos anos 80 foi um lance bem de mudança mesmo. Aquele momento ali foi um momento de quebra de uma rotina. Eu trabalhava de terno, gravata… Foi uma mudança bem grande de estilo de vida. Acho que foi a melhor decisão que eu tomei na minha vida. Depois até retomei minha carreira como programador, mas aquele momento eu tava muito estressado. Eu era novo, 21, 22 anos, mas era velho.

E musicalmente, como foram os anos 80?

Heron – Foi bem em um época de mudança do que a gente ouvia. Eu sempre curti muito música clássica e curtia no rock uma coisa mais progressiva, tipo Yes, Pink Floyd, Genesis eu curtia um monte. Mas o início dos 80 eu fui pra Europa, e era bem na época que o The Clash tava naquela época, até os Stones tava nessa época, que era uma virada pro reggae, pro ska. Aí que eu conheci o The Clash, o Sex Pistols. O Claúdio já é mais dos Ramones. Foi bem isso, a gente foi meio que conhecendo essa coisa mais punk e curtindo isso também. E quando a gente começou a tocar, na verdade não foi uma escolha, como a gente não sabia tocar, foi isso que a gente conseguia tocar. Mesmo que a gente quisesse tocar outra coisa a gente não ia conseguir, porque ninguém sabia tocar, né.

E quando Os Replicantes começou a crescer no Brasil nos anos 80, como foi?

Heron – A gente passava um mês em São Paulo gravando, em um hotel. Pra nós era uma maravilha! Tudo pago… A gente levava nossos amigos pra lá, ficavam no hotel conosco. Eu me lembro que o King Jim, o Ricardo Cordeiro do Garotos da Rua, ele ficou uma semana com a gente no hotel uma vez. Um amigo nosso voltou do Pará, chegou no hotel e perguntou por nós: “Ah, o pessoal do Replicantes tá aí?” Daí ele ficou uma semana também com a gente no quarto, clandestino. Então era uma festa, uma gandaia. Foi uma época bem divertida. E a gente tocou em vários lugares do Brasil. Nessa época a gente tinha mais fãs em São Paulo do que em Porto Alegre. É legal ver que a banda criou um público bem grande lá, mesmo sendo diferente do punk paulista, que era uma coisa mais politizada, mais séria. A gente sempre falou dessas coisas, mas sempre com muito humor.

Tem alguma história que aconteceu nessa época que hoje em dia não poderia acontecer?

Heron – Tinha um festival em Laguna, e passava um caminhão na rua o tempo inteiro anunciando “Lobão, Zero e outros!” Os outros eram nós, o TNT e os Cascavelletes. Aí acho que choveu, não teve show e nós ficamos mais uma noite lá. Aí não nos deixaram passar o som, porque os caras do Lobão passaram a tarde inteira fazendo na caixa “Ta ta ta ta”, depois o bumbo “Ta ta ta” e nós lá esperando, né! Jogamos futebol e nada. Daí nós “Não vamos passar o som? É só o Lobão que vai passar o som?” Aí eu acho que a gente ficou bravo, sei lá, só sei que nós pegamos metade do cachê, uma garrafa de whisky e voltamos pra Porto Alegre, nós o TNT e os Cascavelletes (risos).

Teve alguma droga que marcou os anos 80 da banda?

Heron – Cerveja, cara. Basicamente, a gente bebia e dava uns peguinhas. Eu me lembro que volta e meia eu e o Wander, se a gente não tivesse umzinho pra fumar, a gente ia aqui na Cidade Baixa na casa de um amigo pra buscar um pra ensaiar.

E quanto aos anos 90. Como foi essa época pra você, Gerbase?

Gerbase – Foi uma época mais eclética que os anos 80. Principalmente no início dos anos 80, nós tivemos uma influência muito grande do punk rock, né. Na década de 90 começa a entrar muito forte a música eletrônica, uma música mais experimental, uma música que também flertava com outros gêneros, uma coisa com menos unidade, digamos assim. A própria sociedade parecia ser muito mais heterogênea, com muito mais tribos do que tinha antes. E também começa a acontecer uma coisa que aí nos anos 2000 ficou mais evidente, mas começa nos anos 90, que é a individualidade, cada um começa a cuidar de si e as grandes soluções pareciam não servir mais pra ninguém. Era muito mais difícil nos anos 90 tu juntar muita gente em torno de um ideal.

E como foi esse período para os Replicantes?

Gerbase – Para os Replicantes foi um período interessante, porque no começo dos anos 90 a gente lançou “Andróides Sonham com Guitarras Elétricas”, que acho que é o nosso disco mais experimental. Tinha o sax do Cordeiro, tinha bastante coisa de teclado, alguma coisa de programação eletrônica, nós estávamos inventando coisas.

Que artista você acha que se destacou nos anos 90?

Gerbase – O interessante dos anos 90 foi o David Bowie. Um cara que tava lá nos 60, foi importante nos anos 70, fez muito sucesso nos anos 80 e, de certo modo, nos anos 90 ele tava absolutamente sintonizado do que estava acontecendo com a música eletrônica, por exemplo. Ele lança vários discos muito legais. Por exemplo, ele tem um disco chamado “Black Tie White Noise”, de 93, que é um disco muito interessante. E em 97 ele tem o “Earthling”, que é muito bom também. São discos que mostravam que um cara como o Bowie é capaz de sempre se reciclar e não soar como uma cara, velho, um cara antigo que só faz cover dele mesmo.

E qual foi a droga que representou essa época?

Gerbase – Os anos 90 foi muito da cocaína. Começa a entrar o ecstasy também, mas eu acho que a cocaína ainda é a droga mais procurada nos anos 90. E é uma droga que eu acho muito chata. A cocaína, quase sempre misturada com o álcool, leva as pessoas a serem chatas (risos). O ego fica muito grande e é muito difícil lidar com isso. Não tenho boas lembranças das pessoas à minha volta cheirando e bebendo.

E os anos 2000, a fase mais recente dos Replicantes, como está sendo esse período, Cleber?

Cleber – Nos anos 2000 a gente já tá com uma idade mais avançada (risos). Se tu me perguntar da noite, eu só saio mais pra tocar mesmo. Na verdade, nos anos 2000 deu uma baixa no rock. Nos anos 80 teve aquela efervescência, nos anos 90 deu uma caída e depois nos anos 2000 começou muito aquela história das festas. Mas pros Replicantes os anos 2000 foram de muita movimentação e algumas mudanças. Foi a época que saiu o Gerbase e o Wander voltou. Então em 2003 e 2006 nós fizemos duas turnês pela Europa que foram muito legais, foi uma experiência magnífica. Nós fizemos shows em mais de oito países. Num ano a gente fez 26 shows e no outro 23, já com o Wander nos vocais. Com a retomada do Wander nos vocais a gente teve um boom na banda de novo, a gente começou a fazer bastante shows pelo Brasil. E depois na volta da segunda turnê, em 2006, saiu o Wander e entrou a Júlia. Aí começou uma outra etapa da banda.

A Júlia Barth é bem mais nova que vocês. O que ela acrescentou na banda?

Cleber – Reza a lenda que no primeiro show do Replicantes a Júlia tava lá dormindo numa cadeirinha. A Júlia é de uma outra geração e ela tinha os Replicantes como banda inspiradora para as bandas que ela tocava, ela sempre diz isso. E o que ela trouxe pra banda foi uma energia jovial, uma juventude pra banda, ela é uma puta vocalista, tem uma presença de palco muito boa e ela trouxe todo um público novo pra banda, toda uma gurizada que se identifica muito com ela. A maioria do público dos Replicantes é um público masculino, porque os caras sempre se identificam com as letras. E aí quando entrou uma menina no vocal a gente pensou “Pô, agora só vai ter cueca nos shows”. E foi o contrário, porque muitas meninas se identificam com ela, com a postura dela no palco. Então ela deu uma rejuvenescida na banda. O público se reciclou.

Qual banda serve de inspiração pra vocês até hoje?

Cleber – Uma coisa que a gente ouve, não só eu mas o Cláudio também, é Queens of the Stone Age, uma banda que a gente gosta muito e tem uma pegada muito boa de show ao vivo. Eu, o Heron e o Cláudio fomos até Montevidéu pra ver o show deles. Tem várias bandas, mas se tivesse que escolher uma que ainda me emociona ouvir tocar é o Queens of the Stone Age.

E a droga dos anos 2000, qual seria?

Cleber – Uma droga muito presente é a história da corrupção, uma coisa que atrapalha muita gente. E acho que uma droga que apareceu nos anos 2000 e que detonou muita gente foi o crack. Mas a droga dos Replicantes é a cerveja e guaraná em pó, isso aí há 30 anos a gente consome e nos segurou por todos esses anos (risos).

Fotos: Giovani de Oliveira

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10/12/2013

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