Resenha | Chet Faker na cama

09/05/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos: Reprodução

09/05/2014

Chet Faker já é quase um superstar na Austrália, seu país natal, e agora bate as portas do mundo com um aguardado primeiro disco. Built on Glass (2014) chega depois de apenas um EP, o suficiente para colocá-lo na boca do túnel, a dois passos de estourar para o hype. Mas será que ele segura uma noite de sexo do início ao fim?

O trabalho registra o “homem banda” que Faker é, produzindo, compondo e cantando em todas as faixas. Mas tem uma estrela nesse disco e é Rhodes. Sim, o conjunto de teclas com que o cara abre o álbum é quase um toque de seda sonoro. Rhodes, o piano. Para Built on Glass começar da forma ideal para uma noite de romance, ele é a preliminar perfeita, é aquele modelito que ela escolheu para surpreender. Tudo se inicia com “Release your Problems” que é charmosa, envolvente, (tipo “amor, relaxa, tira essa camisa”), minimalista, e que abre este lado A.

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Está claro a partir desse som que o rapaz de apenas 24 anos tem um vozeirão de crooner para além da barba. É um produto de sua geração, claramente. Produtor do tipo início ao fim, toca bem e sabe ir na jugular do hype, mesmo sendo aquela espécie de cara low-profile. Mas aí já estamos em “Talk is Cheap”, daquele clipe bonitão, (e a mão já passa por ela nessa hora), onde está clara a mistura proposta: o R&B/soul, o indie, o eletrônico.

Pulando (antes que ela broche) a minimalista “No Advice (airport version)”, que é quase um interlúdio meio coral de igreja americana, vem “Melt” com a volta do Rhodes ao fundo, um belo refrão mais pancada e a excitante voz de Kilo Kish (as coisas esquentaram de novo, os beijos percorrem o corpo). Uma pegada mais rap que agrada e retorna em “Gold” – talvez esse seja o melhor par de canções do álbum – ambas não desgrudam dos ouvidos (lambidas viajantes e as paredes começar a umedecer) .

De fato, é legal ver surgir um cara capaz de parir um trabalho onde ele mesmo produz, canta, grava em um home-studio e ainda nos deixa excitados. O australiano já mora em Nova York e está pronto para estourar, mas esse ainda não é um álbum redondo. Fechando o lado A (eu e ela estamos quase lá) “To Me” engraça, leva a cantoria aos limites, com o downtempo que percorre a obra (e a coisa de fato pega fogo apaixonada). Aqueles backing vocals do meio pro final da faixa são pura alma.

Mas aí vira o disco e se a coisa ainda não se encaminhou pros finalmentes, talvez seja tarde. Começa a fase mais experimental e eletrônica, principalmente. “Blush” tem uns elementos meio dub, é uma trip, “1998” vai perdendo o embalo, não é das piores, mas já tem beat dançante demais, outro universo demais para manter aquela janela quente que o toque de seda que Rohdes trouxe no início. É justamente quando ele experimenta mais, mas quando a própria experimentação já vai perdendo o fogo inicial (anunciando a hora do grand finale). Os beats eletro estão na essência do som, afinal, trata-se de alguém que começou produzindo fissurado em casa em uma versão antiga do Ableton.

Desde o começo da virada da bolacha, é em “Cigarettes and Loneliness” que sentimos que o clima já era. De forma bastante literal, dá pra viver o título (o ápice se foi e chega a hora do ‘abraçados se recuperando’), e enquanto se acende um, a vontade é de checar se falta muito para acabar o disco (a paciência está indo, a vibe mudou, que tal ir dormir?). O ataque de alma, o aclamado soul moderno já está mais para batidão. A coisa vai esfriando, apesar de “Lesson in Patience” ser um pouco mais pra cima, mais jazzística (e seguimos ali, aos poucos nos desgrudando com um sorriso de prazer petrificado). Talvez as melodias vocais é que não combinem tanto com os beats eletrônicos. Para fechar, um sensual solo de guitarra que (com ela ainda nos braços) seria bom ter ouvido antes, mas fecha tudo com louvor.


Se esse é um grande álbum para uma noite de amor, melhor é ouvir em vinil e ficar no lado inicial. Mas se trata de uma grande estreia – tem momentos do caramba, só não tem equilíbrio. Às vezes parece mais uma grande exposição do que ele é capaz, um cara que se prepara para tomar conta das paradas. Vale abrir o olho para seus próximos passos: virão pedradas mais consistentes, dá para ter certeza.

Ouça o disco:

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09/05/2014

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