É Noize no Lollapalooza #2

07/04/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

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07/04/2014

Bem no meio da tarde de domingo, um pedaço importante da história da música contemporânea foi revisitado de maneira épica. Johnny Marr, ex-guitarrista dos Smiths, veio ao Lolla promover o disco “The Messenger” (2013), e apresentou suas canções solo com vigor e energia durante a primeira metade de seu show. O cara é um mestre da guitarra e influenciou toda uma geração. Isso é explícito mesmo quando as faixas que ele executa são menos conhecidas.

Contudo, as surpresas que Marr preparou para a segunda metade de seu show deram o verdadeiro peso histórico para a passagem dele pelo palco do Lolla: primeiro vieram performances de “Getting Away With It”, música que ele gravou no Electronic (superbanda formada com membros do New Order e participação do Pet Shop Boys), “I Fought The Law”, do Clash e “Big Mouth Strikes Again”, de sua antiga e mais conhecida banda.

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Foto: I Hate Flash

Foto: I Hate Flash

O grande momento foi quando Johnny chamou ao palco alguém que apresentou como “um dos meus melhores amigos, um cara que foi comigo pra escola”: tratava-se de Andy Rourke, ex-baixista do Smiths, entrando para acompanhar uma performance do clássico “How Soon Is Now”. Dizer que o público entrou em delírio seria pouco. Sem dar tempo para ninguém recuperar o fôlego, Marr fechou o show com outra de suas parcerias lendárias com Morrissey, “There Is a Light That Never Goes Out”. Não houve coração que resistisse. Se esse mestre do rock britânico queria arrancar lágrimas do público, saiu do palco com o objetivo plenamente alcançado.

Foto: I Hate Flash

Foto: I Hate Flash

As integrantes do Savages deram uma aula de pós-punk sob o sol quente que iluminava Interlagos. Vestidas de preto, elas contrastavam um pouco visualmente com o céu azul e limpo da tarde. Isso não parece ter sido um problema. Com apenas um disco lançado, “Silence Yourself” (2013), a banda apresenta um som que parece uma mistura agressiva de Joy Division com PJ Harvey.

A presença de palco do grupo é incrível, especialmente a da vocalista Jenny Beth. Em “Flying to Berlin”, ela canalizava seu Iggy Pop interno e aumentava a tensão da música até gritar como uma harpia punk prestes a voar. Performances como as de “Shut Up” e “Hit Me” são extremamente poderosas.

O álbum delas foi bem avaliado pela crítica no ano passado e, se você ouviu e não gostou muito por uma razão ou outra, saiba: believe the hype neste caso, pois Savages ao vivo é brilhante (muito melhor que no estúdio).

Foto: I Hate Flash

Foto: I Hate Flash

Se o legado de Kurt Cobain foi sentido no primeiro dia do Lolla (quando o Muse fez um cover de “Lithium”), as suas influências foram mostradas no segundo dia. Certa vez, o falecido líder do Nirvana disse que só queria ter uma banda para soar como o Pixies. O conjunto de Black Francis se apresentou no palco Skol sem fazer concessões de etiqueta. Nada de discursos ou interações, somente um show explosivo, mostrando os hits obrigatórios – “Hey”, “Monkey Gone to Heaven”, “Where is My Mind”e “Here Comes Your Man” – e composições mais obscuras.

Foto: I Hate Flash

Foto: I Hate Flash

O elemento mais simpático da banda neste show foi a bela baixista Paz Lenchantin (que já tocou no A Perfect Circle e Zwan), que cumpriu muito bem a tarefa virtualmente impossível de substituir Kim Deal. Contudo, não era necessário que grandes firulas fossem realizadas; o Pixies não precisa de mais nada no palco além da força de suas canções.

Foto: I Hate Flash

Foto: I Hate Flash

Depois de 30 anos de existência, o Soundgarden finalmente tocou em solo brasileiro pela primeira vez. E foi num clima de celebração dos anos 90 que a banda levou seu show. Aproveitando o gancho dos 20 anos desde o lançamento do disco “Superunknown”, o grupo do vocalista e guitarrista Chris Cornell baseou seu repertório nesse que é seu mais conhecido trabalho. Logo, não faltaram os hits “Black Hole Sun”, “Spoonman” e “The Day I Tried to Live” (#aquelalinhadebaixomaravilhosa).

A performance do Soundgarden agrada principalmente pela presença de Cornell e do baixista Ben Shepherd, ambos mantendo a energia do palco lá em cima. Com este show, o Lolla continuou uma tendência de sucesso: reverenciar a cena de Seattle com pelo menos uma banda por edição.

soundgarden lolla1

Quando o Arcade Fire começou seu show com os primeiros acordes de Reflektor, o público presente era grande, mas consideravelmente menor do que a multidão que esperava o Muse, headliner do Lollapalooza da noite anterior. Conforme a música foi rolando, a plateia até aumentou. O ponto importante aqui é destacar que, mesmo atraindo uma atenção menor, o espetáculo apresentado pelo grupo de Win Butler foi consideravelmente superior. O Arcade Fire terminou o Lolla com o melhor show de todo o festival.

Os 9 anos de espera desde a última visita da banda a São Paulo foram tempo suficiente para que eles saíssem do nível de promessa da crítica e subissem para se tornar o maior nome da música indie atual, em grande parte pelo lançamento do já clássico disco “The Suburbs” (2010). A turnê atual promove o ótimo “Reflektor”, lançado no ano passado, e o som do disco influencia o repertório inteiro. Mesmo hits antigos ganham uma roupagem atualizada.

Foto: I Hate Flash

Foto: I Hate Flash

Percussões com influências africanas e latinas se misturavam ao já costumeiro coro de guitarras, vozes e sintetizadores utilizados pelo coletivo canadense. Nas telas, imagens que hora invocavam grandes pistas de dança para em momentos seguintes exibir filmagens que pareciam ter saído de um filme de Méliès.

O roteiro foi executado com maestria. Win Butler e sua esposa Régine Chassagne comandaram a noite com um setlist que incluiu “Reflektor”, “Ready to Start”, “The Suburbs”, “Normal Person”, “Rebellion (Lies)” e “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)”, entre muitos outros destaques. Era um misto de festa, euforia e melancolia. Não foi muito difícil encontrar pessoas em lágrimas no meio da audiência. O coro final de “Wake Up”, executado pela plateia mesmo depois do fim do show mostrou que o melhor do Lollapalooza foi realmente guardado para o final.

Foto: I Hate Flash

Foto: I Hate Flash

Num balanço final sobre o Lollapalooza 2014, cabe um comentário interessante: neste final de semana, São Paulo presenciou o show de dois headliners de festivais gringos antes que eles se apresentassem nos ditos eventos (sim, estamos falando principalmente do Coachella, que neste ano vai contar com várias outras atrações que já passaram por aqui antes, como Ellie Goulding, Lorde e outros).

O Brasil tem motivos para comemorar: entramos na rota dos eventos musicais grandiosos há algum tempo, mas parece que estamos começando a nos firmar como um pólo já estabelecido para receber atrações de grande porte com a devida regularidade.

Foto: Pedro Spagnol

Foto: Pedro Spagnol

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07/04/2014

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