Brincando de virtuosismo com Hermeto Pascoal

14/10/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

14/10/2014

Fotos: Ariel Fagundes

Eis que o show do Hermeto se abre sem Hermeto.

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Com luzes piscantes e brinquedos cantantes, a banda entra numa ode às crianças em seu dia, entramos no mato encantado com vagalumes mágicos e seres dignos de um conto fantástico infantil. E como que imperceptivelmente Hermeto dá sua entrada, sutil, sentado ao piano, num canto a Filó Machado, que logo antes havia encantado a plateia do Porto Alegre Jazz Festival com sua música, espontaneidade e a incrível presença de seu neto Felipe Machado, pequeno talento de 11 anos que se tornou gigante ao dedilhar seu violão.

Estávamos no Dia das Crianças e o ambiente era brincante. Infantil. Hermeto, na fluidez de seu piano e voz, jogava com as palavras tal uma criança, entre ironias, bobagens, aquela alegria simples, tirando o riso da plateia ainda surpreendida. O abraço entre os Filó foi inevitável, lágrimas brotaram.

hermeto pascoal porto alegre jazz festival 04

Neste ponto começa o show. De fato. Com a banda no palco, Hermeto mais uma vez mostra-se ser extra musical, pondo a banda a tocar e ainda regendo os técnicos de luz e áudio para dar vida ao seu som. E, como numa aula, ele seleciona os músicos separadamente para temperar bem o que estava ali sendo feito: música viva, em todos os sentidos. É técnico ao tocar, expressivo ao improvisar, sensível ao perceber o resultado sonoro, esclarecedor ao introduzir a plateia nos diálogos falados e musicais. Precisão e elucubrações rítmicas ao extremo, melodias espiraladas com dendê temperando o jazz. Aquele bom humor nada hermético de sempre. Sobre o show em si, nada mais ou menos do que se pode esperar de Hermeto Pascoal.

hermeto pascoal porto alegre jazz festival 01

A apresentação foi interrompida algumas vezes por uma forma de reunião de banda, enquanto algum músico solava, para decidir o decorrer do show. Era mais uma intervenção cênica do diretor daquele grande espetáculo, que costurava os momentos como rendas multicoloridas de alguma saia-rodada alagoana. Retalhos que incluem um momento para solo de percussão com uma candeza final de porco de borracha performado por seu filho Fábio Pascoal.

hermeto pascoal porto alegre jazz festival 02

Tais intervenções configuraram um show didático, inclusive com uma mesma música sendo repetida diversas vezes a fim de demonstrar a entrada de cada instrumento. Incluindo ainda divagações de Hermeto sobre as músicas que tocava e seus processos de criação.

Um dos grandes ensinamentos foi a demonstração da importância do público para a existência da música, pois ela não existe sem alguém para ouvir ou compartilhar. A música viva é o resultado dessa interação. E, neste sentido, o público daquela noite se diferenciava bastante do último show dele que vi em 2011 no Canoas Jazz Festival. Daquela vez, a entrada era franca e o show, em parque público ao ar livre – em oposição a um ingresso nada barato dentro de um shopping center.

Ambientes diferentes… Públicos diferentes… Músicas diferentes. Uma das poucas coisas que Hermeto disse quando nos encontramos no camarim após o show mostrou que ele pensa isso: “Você viu a diferença que teve de um show pro outro? Sabe por quê? Porque vocês vêm com um pensamento diferente, e isso é mútuo”. E sua música é uma forma de brincar? “É uma brincadeira consciente, séria. Tocar é brincar com o que é sério. Mas sem brincadeira não existe o mundo. Quando querem formalizar o mundo, até as árvores choram”.

Esse é Hermeto.

hermeto pascoal porto alegre jazz festival 05

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14/10/2014

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