Retrospectiva 2014 com O Terno

18/12/2014

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Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

18/12/2014

Fotos: Luiz Vicente

Sempre que o ano acaba começa a rolar um milhão de retrospectivas, como a da Globo, com o Sergio Chapelin e sua voz anasalada falando sobre tragédias, fotos de bebês nascendo, uma novidade tecnológica japonesa e as celebridades que morreram. Nos blogs e sites de música também é o momento do nosso espírito Rubens Ewald se apoderar e começarmos a apontar os melhores e piores do ano, em qualquer categoria possível e imaginável, só para exercer essa função maravilhosa que é palpitar.

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Imbuídos dessa vontade de fazer outras pessoas apontarem seus próprios dedos, fomos entrevistar os meninos d’O Terno, que faziam um show para o projeto Estéreo MIS, do Museu da Imagem e do Som, de São Paulo. Como eles lançaram um dos melhores álbuns do ano em diversas listas aí, seria justo ver qual é a lista deles, não?

A ideia hoje é fazer uma retrospectiva deste ano que deve ter sido bem interessante para vocês. Então, como foi o 2014 para vocês com o lançamento do segundo álbum?

Guilherme D’Almeida: Quando terminou o primeiro álbum, assim, a gente começou a trabalhar ele e tocar mais pela estrada, principalmente aqui em São Paulo e nas capitais que a gente fez. A gente começou a se ligar em muitas coisas que poderíamos ter feito no primeiro. Então entramos no segundo com a cabeça tão aberta de tanta possibilidade que tinha que não existiu aquela preocupação de soar melhor que o primeiro, se seria mais rock and roll, menos rock and roll, qual que era a onda. [A gente estava] mais focado em experimentar tudo aquilo que no primeiro disco saiu mais cru, ver onde a gente podia ir agora.

Tim Bernardes: Tem uma questão de ser só músicas nossas também. O primeiro tem cinco autorais só. Já esse são todas autorais. Então já existe essa empolgação de fazer as novas músicas quase como se fosse um disco pra valer, sabe?

Victor Chaves: E a proposta foi diferente também. O primeiro disco foi colocar músicas que a gente já fazia em shows, [o disco] acabou sendo um registro do ao vivo. Gravamos dois dias em estúdio. E aí este segundo disco foi num outro caminho, mais de estúdio mesmo, com nove músicas inéditas e a gente acabou se debruçando no estúdio para estudar todas as composições, as ideias, os timbres.

o terno entrevista retrospectiva

E vocês esperavam a recepção que tiveram, porque em todas as listas de melhores do ano vocês estão figurando entre os cinco, dez melhores álbuns. Como está sendo ver os seus nomes nestas listas todas?

Tim: É bem legal assim você ver que as outras pessoas estão achando o álbum legal, porque vocês faz todo empolgado, acha que está foda, mas não sabe se outras pessoas também vão achar o mesmo. Porque às vezes você pode estar achando que é um álbum muito legal, mas ninguém mais está gostando.

Qual foi o melhor álbum internacional que vocês ouviram em 2014?

Tim: O Salad Days, do Mac DeMarco, foi muito legal. Sinto que estou esquecendo algum…

Guilherme: O disco do Temples [Sun Structures] é muito bom.

Tim: É verdade. Muito bom mesmo.

Victor: O Hobo Rocket, do Pond, ouvi esse ano. Achei muito bom também.

Tim: Que lançaram esse ano, eles foram os que a gente mais ouviu mesmo: Mac DeMarco, Temples e Pond. Ah, tem também um cara que entrei em contato esse ano, que é o Connan Mockasin. O Mac DeMarco é uma versão pop dele. Parece uma grande zoeira, mas não é. É muito legal.

E nacional?

Tim: Tem o Cheio de Gente, do Memórias de um Caramujo. Eu acho um disco impressionante, assim.

Guilherme: É muito, muito bom.

Victor: O do Criolo, que acabou de lançar, Convoque seu Buda, também fica na cabeça. É muito foda. O dele e o da Juçara Marçal.

Tim: O do Tom Zé não vale falar porque a gente participou, mas tem muita gente legal nesse disco, ele foi muito legal de fazer e eu acho muito bom.

Guilherme: Eu estava pensando no Primos, que o Chaves toca também. Primos Distantes saiu esse ano, né? É um belo álbum. A gente ouviu bastante. A produção é do Rafael Castro, muito boa.

Tim: Ah, tem um outro que eu ouvi muito esse ano, já estava quase esquecendo, que é o Rainha dos Raios, da Alice Caymmi. Ele tem uma produção muito foda do Strausz.

E qual foi a grande descoberta desse ano? Não precisa ser uma revelação, pode ser alguém que vocês ainda não tinham ido atrás e só conheceram agora.

Tim: Puts, eu descobri muita coisa o ano passado. Esse ano foi mais trampo, eu acho. Mas eu entrei muito na onda dos caras do folk dos anos 70, Neil Young, o Nash, os discos solos deles no começo daquela década. O Duncan Browne. Acho que muito por ter ouvido o ano passado inteiro o Fleet Foxes, fui atrás de todas as fontes. Ah, Buffalo Springfield também. A banda do começo desses caras fodas.

tim bernardes entrevista o terno

E qual foi a grande surpresa do ano? Um álbum que vocês não esperavam gostar, mas gostaram muito.

Tim: Nossa, tem um que transformou o que era chorume em ouro, que é o do Séculos Apaixonados [Roupa Linda, Figura Fantasmagórica]. Eles pegaram um monte de timbre e tom trash dos anos 80 e fizeram de um jeito muito freak, assim. É muito legal!

Guilherme: É muito bom mesmo. Eles e o Dorgas fazem esse som que parece ruim de propósito, mas é refinado e muito legal. Altíssima qualidade. Também teve a regravação do Wayne Coyne em cima do Sgt. Pepper‘s, que era algo muito arriscado. Mas ele é aquele cara que arrisca e acerta.

Qual foi o single do ano, aquela música que vocês não pararam de ouvir e falaram “caralho, que coisa mais maravilhosa”?

Guilherme: “How Can You Really”, do Foxygen. Aliás, é um puta disco também. Uma das bandas que está fazendo hoje um dos sons mais legais que tem por aí. Eu acho que peguei para ouvir ela sem parar por uns dois meses. Saiu o clipe no YouTube e ouvi mais uns dois. Eu acho que escutei todo os dias sem parar.

O show mais foda que vocês viram esse ano.

Tim: Cara, o Rafael Castro fez um show no Puxadinho da Praça, com pouquíssima gente, tocando um disco seu dos antigos, o Raiz, que é um disco de folks dos mais lindos que tem. Teve um festival caipira lá e ele foi convidado para tocar esse álbum. Foi tipo ver o Neil Young em 71.

Guilherme: E olha que você foi no show do Paul, hein?

Tim: O Tame Impala foi melhor que o show do Paul também. Esse que teve agora no Popload. A luz do show, é um outro nível. É um espetáculo com bom gosto, não é espalhafatoso, desnecessário. Tudo faz sentido ali, é muito sincronizado e todos seus sentidos ficam bombando.

Victor: Gostei muito do Amarante, que teve no Popload também. Esse disco dele, Cavalo, é desse ano ou do ano passado? Enfim, é um disco muito bonito. Se for desse ano entra na lista com certeza. E o da Esperanza Spalding também, no Ibirapuera, foi um puta showzaço.

Guilherme: Que foi no dia desse do Rafael Castro. Os astros estavam trabalhando para ser um dia de música muito boa.

Num campo mais amplo de cultura, seja filme, dança, todas as outras artes, o que vocês viram que foi legal?

Tim: O espetáculo da namorada do Victor, a Morena Nascimento, é uma coisa de outro mundo. Vi na Galeria Olido. É muito bonito mesmo.

Victor: Agora ela está na França, chama Rêverie, mas deve voltar o ano que vem. Rêverie é um trabalho solo da Morena com dramaturgia de Carolina Bianchi. É um trabalho muito intenso, muito forte, que movimenta o corpo e a alma e, pra mim, eu vi várias vezes, e não só porque eu sou namorado, mexeu muito comigo. É legal, ele trata sobre os devaneios, fragmentos e sobre todo o universo onírico, faz uma ponte com o surrealismo. Acho que ele dialoga muito com o nosso álbum. Não foi proposital, mas acabou rolando essa coincidência. No espetáculo dela tem uma luz de um projetor de slide com, com aquele barulhinho de filme. E ela interage com colagens da Grete Stern. É um outro lado da arte que entrei muito em contato por estar com ela. E eu admiro muito o que ela faz.

Qual foi o grande chorume para vocês esse ano em outras esferas?

Victor: O grande chorume foi o chorume mesmo da água, do volume morto. É uma situação bizarra, que só tende a piorar e é preocupante. Mas, além da crise hídrica, o que preocupa é que as medidas que estão sendo propostas não tocam no cerne da questão. O pacotão que o Alckmin ofereceu pra Dilma não toca no cerne da questão da água, que é o cuidado com mananciais já existentes, restaurar as matas ciliares e controlar o crescimento urbano nestas áreas de proteção.

Tim: A água foi sem dúvida. Mas também o nível das discussões durante a eleição. A galera abaixou o nível completamente, foi bem feio.

Qual foi a coisa mais engraçada que viram esse ano?

Tim: Cara, eu conheci o “taca-lhe pau, Marcos” e achei incrível. É um viral inocente, ninguém se machuca, ninguém se fode. É muito engraçado.

Guilherme: Tem uma banda japonesa que se chama Maximum the Hormone, que vale muito a pena procurar. É bem bizarro, porque eles fazem uma mistura de death metal com música de anime. É muito peculiar.

Tim: É a coisa mais estranha que eu já vi na minha vida.

Guilherme: Tem que ver até o fim uma música, porque não é misturado, na verdade é dividido. Fica metade death metal e aí, do nada, a outra metade é anime.

Tim: É uns três minutos de uma e uns três minutos da outra. É bizarro. Uma outra coisa.

retrospectiva 2014 o terno2

O tempo é curto, vocês têm um show pra fazer. Pra fechar, vamos fazer a brincadeira do Come, Mata ou Casa. Vou dar três nomes e, para cada um deles, você tem que escolher uma opção: come, mata ou casa. Não pode repetir a opção. Vamos começar com roqueiros reaças dos anos 80: Lobão, Roger e Dinho Ouro Preto. Come, Mata ou Casa?

Guilherme: Puta, cara. Tem que matar o Lobão mesmo, né? Não tem jeito. Ele é o que mais joga merda no ventilar. Até mais que o Dinho. O Dinho está mais na dele, acho que dá pra comer.

Victor: Pra casar? Putz.

Tim: Eu acho que vou casar com o Roger. Talvez mataria o Dinho e comeria o Lobão.

Agora com mulheres famosas da história musical: Courtney Love, Yoko Ono e Linda McCartney. Come, Mata ou Casa?

Guilherme: Eu caso com a Linda. Mato a Courtney e como a Yoko?

Tim: Não, não sei. É que eu não quero matar a Yoko. Eu gosto muito dela. É, tem que matar a Courtney mesmo.

Victor: Ah, pode ser casar com a Yoko.

Mas casar com a Yoko costuma dar problemas numa banda, não?

Guilherme: É verdade.

Pessoal, acho que é isso. Por causa do tempo, vamos encerrar.

Guilherme: Calma aí que eu tenho uma pra você. Come, Mata ou Casa: Tim Bernardes, Guilherme de Almeida de Victor Chaves.

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Meu gravador estava com a bateria terrível e não pude gravar essa resposta. Fui curtir o excelente show d’O Terno lá no MIS, felizão com a simpatia deles e com a lista de referências que tinha pegado pra ficar ouvindo antes que 2015 chegue. Sobre o Come, Mata ou Casa com os membros da banda? Deixo para vocês.

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18/12/2014

Revista NOIZE

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