Vida longa à Rainha

17/06/2014

The specified slider id does not exist.

Powered by WP Bannerize

Revista NOIZE

Por: Revista NOIZE

Fotos:

17/06/2014

Muitas rainhas herdam a coroa e o trono. Certamente, este não é o caso de Aretha Louise Franklin. Não se trata de uma rainha consorte. É uma rainha reinante. E isso ficou bem claro logo no começo do espetáculo da diva no Blue Note Jazz Festival, em Nova Iorque. A Rainha do Soul, aos 72 anos, abriu seu show no Radio City Music Hall em NYC, no dia 14 de junho de 2014 com o clássico “Higher and Higher” e prontamente, seus súditos fiéis ergueram as mãos ao céu e agradeceram ao Lord pelo que começava a acontecer ali.

Hit após hit, tudo que eu havia pesquisado rapidamente sobre Aretha foi fazendo sentido para mim. Ela é a segunda cantora a possuir mais prêmios Grammy na história da música. Foi considerada a maior cantora de todos os tempos pela revista Rolling Stone. É a primeira mulher a fazer parte do Hall da Fama do Rock and Roll. Foi a primeira mulher negra a aparecer na capa da revista Time. Filha de reverendo, tem fortíssima influência do gospel. E se alguém tinha alguma dúvida sobre tudo isso, ainda no início da noite a rainha levanta a platéia e arrepia até a Estátua da Liberdade com mais um hit, mais um clássico, mais uma oração: “I Say A Little Prayer”.

*

Por várias vezes, a rainha pede para o público fazer parte do show. Todos deixam a confortável poltrona para ficar de pé. Quem está presente, ama Aretha e, na verdade, está morrendo de saudades. É um amor correspondido. Aretha tem um carinho especial por NY: em 1960, a cantora, ainda menina, chegou a Big Apple parar ter aulas de técnica vocal e de dança. Talvez o único momento em que o espetáculo cai um pouco, mas que ainda assim emociona o público, é na homenagem que Aretha faz a afilhada, Whitney Houston, falecida em 2012. Como disse, o público não se importou, muito pelo contrário, gostou e muito, pois tem uma estima especial por Whitney Houston, que despontou justamente nas casas noturnas de NY.

Quando a rainha-madrinha cantou “I Will Always Love You”, mais uma vez não parecia uma música, mas uma prece em forma de música. Ok, retiro o que disse. Foi bonito, vai. A homenagem serviu para mostrar que Aretha segue em plena forma também no comando do piano. Reza a lenda que a cantora aprendeu a tocar sozinha, de ouvido. Detalhe: antes de começar, a rainha repetiu algumas vezes “Um, dois…”. Fiquei sem entender o que estava acontecendo. Ficamos todos, na verdade. Aretha, em tom espirituoso, mas sério e perfeccionista, estava na verdade reclamando do áudio “Eu não paguei por isso!”.

A rainha ainda contou piada melhor do que o Bill Cosby, pediu para o filho se levantar na platéia, mandou beijo carinhoso (a esta altura éramos todos da família real da rainha), dançou malemolente, desfilou seus vestidos, exibiu o casaco de pele, tropeçou, se divertiu com isso, tirou os saltos, mas sem o pretexto de sentir o palco. Queria apenas estar ainda mais à vontade, o que parecia impossível. Nunca vi uma artista com tanto domínio da sua arte. Por fim, Aretha desabafou. Sim, desabafou. Falou sobre seu câncer no pâncreas, o que lhe fez cancelar diversos shows nos últimos dois anos. Este assunto até então havia sido muito pouco abordado por ela e sua família. Em 2012, a expectativa de vida da cantora era de apenas um ano, devido à idade avançada e o sobrepeso, além da taxa de sobrevivência de pessoas com essa doença ser 10%. Mesmo sendo um assunto delicado, a rainha conduziu com maestria e no fim bradou para todo mundo ouvir “Im back!”, contagiando e arrepiando novamente a platéia.

Tudo muito bom, tudo muito bem, tudo perfeito até então. Um espetáculo que dá para chamar de espetáculo completo. Até “Happy”, música que virou hit com o Pharrell, a banda da Aretha tocou, em um break, enquanto a rainha vaidosa tomava um ar e trocava o figurino. Mas faltava algo. Em mais alguns minutos, o show iria acabar e ela não havia cantado o seu maior clássico. Sim, “Respect”, single que a colocou em primeiro lugar na lista dos mais vendidos na década de 60, segundo a publicação Billboard. A venerada rainha é soberana mas não é tirana. Fez a vontade de seus súditos: cantou “Respect”. E como cantou! Sim, Aretha Franklin, estava de volta. Como ela própria diz diz na letra: “O que você quer, querido? Eu tenho.” Depois de quase duas horas de show, eu posso dizer: sim, Rainha do Soul, definitivamente, você tem.

Tags:, , , , , , ,

17/06/2014

Revista NOIZE

Revista NOIZE