10 anos sem Bezerra da Silva | Para ouvir, ver e ler


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Revista NOIZE

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Em 17 de janeiro de 2005, o mundo perdeu parte de sua malandragem com a morte do intérprete Bezerra da Silva, aos 77 anos de idade. Começou na música com o coco, ritmo de roda do nordeste do país, que aprendeu com o rei Jackson do Pandeiro. Quando chegou de Pernambuco ao Rio de Janeiro, Bezerra tornou-se o porta-voz de cronistas do morro. Em 2001, virou evangélico da Igreja Universal do Reino de Deus e gravou o disco Caminho de Luz (2003) com músicas gospel. No mesmo ano em que morreu, cantou com o Planet Hemp sobre a erva proibida. Bezerra da Silva chamava-se de "bom malandro" e, por isso, não gostaria de morrer em um fim de semana ou feriado para não atrapalhar a folga dos amigos. 17/01/2005 foi uma segunda-feira e em homenagem ao intérprete gente boa nós mostramos Bezerra da Silva e seus compositores de três ângulos diferentes: para você ouvir, assistir e ler. Para ouvir (proibidão) Pinga, 1000tinho, Roxinho, Alicate, Luiz Grande, Beto Sem Braço, Pedro Butina, Evandro do Galo, Adelzonilton, Popular P., Moacyr Bombeiro, Cláudio Inspiração, Barbeirinho do Jacarezinho, Edson Show, Sylvio Modesto, Wilsinho Saravá, Marujo, Walmir da Purificação, Elson Gente Boa, Rabanada, Bolão, Tonho Magrinho, Nilson Reza Forte... DSC_0224 Se não fosse por esses ilustres anônimos, Bezerra da Silva não seria a lenda que é. Esses eram os compositores dos sambas “proibidões” que ele cantava em seus discos, faixas hilárias que falavam muito sobre drogas, a realidade das prisões e o violento código de ética que havia entre a malandragem de seu tempo. Houve quem acusasse Bezerra de cantar “sambandido”, como se suas músicas propusessem uma glorificação do crime... Era para essas pessoas que ele cantava estes versos de “Partideiro Sem Nó na Garganta”: Dizem que eu sou malandro cantor de bandido e até revoltado somente porque canto a realidade de um povo falido e marginalizado Na verdade eu sou um cronista que transmite o dia a dia do meu povo sofredor Dizem que gravo música de baixo nível, porque falo a verdade que ninguém falou Em homenagem aos 10 da morte de Bezerra da Silva, criamos essa playlist só com o melhor do samba proibidão do cantor, incluindo “Transação de Malandro”, “ Cachorrinho de Polícia”, “Overdose de Cocada”, “Vou Contar até três”, “Nariz de Bronze”, “Boca de Radar”, “Defunto Grampeado” e muito mais. Para ver Os compositores de Bezerra da Silva também são eletricistas, trocadores de ônibus, mecânicos, presidiários, policiais, bombeiros e trabalhadores que vivem o dia-a-dia do morro. O documentário Onde a Coruja Dorme (2012) mostra depoimentos dos compositores, amigos, e artistas como Jorge Ben, Marcelo D2 e Marcelo Yuka que falam sobre as histórias cantadas nos sambas de Bezerra e seu trabalho com grandes gravadoras pelos direitos de seus colaboradores. As imagens que mostram a realidade retratada expressa por Bezerra foram dirigidas por Simplício Neto e Márcia Derraik. Para ler Bezerra da Silva é malandro, e malandro fala gíria. Usadas pelos escravos para os senhores não serem capazes de entenderem o que falavam, as gírias foram usadas largamente nas letras cantadas pelo sambista. No encarte do LP de 1989 Alô malandragem, Maloca o Flagrante, os compositores Jorge Garcia e 1000tinho reuniram as gírias usadas nas letras no Dicionário Bezerra da Silva de Malandrez. DSC_0206 Dedo de anzol – delator ou alcagüete Língua nervosa - delator ou alcagüete Língua de tamanduá - delator ou alcagüete Dedo duro - delator ou alcagüete Dedo de seta - delator ou alcagüete Dedo de cimento armado - delator ou alcagüete Língua maldita - delator ou alcagüete Língua de sabão - delator ou alcagüete Levar eco – levar tiro Ripar – surrar Um sete um – falsário Um cinco um – gato, ladrão Gato mestre – gato, ladrão Quatorze – gato, ladrão Cento e cinqüenta e sete – artigo 157 do Código Penal, assalto à mão armada Grampeado – preso Cabrito importado – muamba Sair no pinote – fugir Corcoviar – se esquivar Ficar miudinho – se preparar para a briga Cachanga – barraco, casa Cerva – cerveja Ciscante - galeto assado Corujão – curioso, alcagüete Boca isolada – lugar Pintou sujeira – delator na área Dois oito um - artigo 281 do Código Penal, tráfico de drogas Artigo doze – tráfico de drogas Dezesseis - artigo 16 do Código Penal, vício de drogas Muvuca – muita gente Cana dura – polícia Tira – polícia Homens – polícia Kojak – polícia Matraca – metralhadora Dividida – troca de tiro com os “ homens” (polícia) Malandro rife – boa gente, gente fina Fraga – flagrante Fragoroso – flagrante Antena – chifre na cabeça dos outros Bater pra alguém – avisar Mestre tubara – ladrão de gravata Tubarão – ladrão de gravata Esperto demais – otário Malandro demais – otário Gavião – paquerador Ricardão – paquerador Uns e outros – a pessoa de quem se fala Vinte e um – marido traído Touro – marido traído Cara de boi – marido traído Lubiza – capeta Dois é de caifaz – capeta Coisa ruim – capeta Forma de fazer capeta – capeta Espírito mau – capeta Forma de fazer lubisomem – capeta Forma de fazer pomba gira – capeta
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