
O Tim Festival foi um evento que marcou a memória de quem acompanhava de perto a cena indie dos anos 2000, incluindo nomes como Arctic Monkeys, The Libertines e Arcade Fire. Após duas décadas, a mesma Tim retorna ao mercado de festivais com o Tim Music, evento gratuito que tomou o Parque Ibirapuera, em São Paulo, nos dias 13 e 14 de abril. Antes, o evento já havia passado pelo Rio de Janeiro, Goiânia e São Luís.
O line up contou com parcerias que mostram o melhor da mistura brasileira: no primeiro dia, Mano Brown dividiu o palco com Rashid, enquanto Ludmilla teve como convidado ilustre Martinho da Vila. Já no segundo dia, o encontro do pagode com o rap se fez com o show de Ferrugem convidando Criolo. Na sequência, Ivete Sangalo subiu ao palco com Iza, botando todo mundo para cantar e pular junto os maiores hits de suas carreiras.
Durante um papo com a Noize no backstage, Criolo e Ferrugem comentaram as expectativas do show. Trocando elogios,Ferrugem teceu a importância de Criolo para a música brasileira. “Para mim, esse show é uma grande responsabilidade, porque ele é um artista que carrega muito a identidade do nosso país, um cara que tem um discurso muito forte, dentro e fora da música”, resumiu. “Na verdade, ele está sendo muito gentil”, respondeu Criolo.
Ele reforçou a importância do pagode para a nossa música. “A gente leva o pagode muito a sério, embora muitos encarem só como lugar de entretenimento, de sorriso recreativo. Mas o pagode vai além. Ele carrega toda uma expressão que não apenas está na canção, mas nos corpos que dançam. O pagode nasce das ruas, ele nasce dos desejos. No meio de tanta coisa difícil, a gente ainda se reúne para batucar e celebrar as nossas vidas, então, há de se respeitar todas as rodas de pagode do Brasil”, finalizou Criolo.
Dobradinha musical
A voz aveludada de Ferrugem tomou o Parque Ibirapuera já no cair da tarde de domingo. Entoando seus hits mais românticos, o cantor fez o público cantar alto canções como “Me Bloqueia” e “Paciência”, gravada com Alcione. A participação de Criolo foi o ponto alto — juntos, cantaram sambas tradicionais que ajudam a contar a história de São Paulo, como “Saudosa Maloca”. A faixa final do show foi dedicada a covers, como “Você Me Vira a Cabeça”, “Depois do Prazer”, do SPC, e até uma versão pagode de “Evidências”. O show entreteu o público do início ao fim.
Já era noite quando Iza e Ivete Sangalo subiram ao palco do Parque Ibirapuera — que, desde o ano passado, tem uma praça batizada com o nome de Rita Lee, ilustre frequentadora do local. Em homenagem a ela, as duas divas entraram no palco cantando os versos de Caetano que moldaram o imaginário paulistano: “Ainda não havia para mim, Rita Lee, a tua mais completa tradução…”. Depois, emendaram “Sampa” com “Macetando”, hit de Ivete que foi sucesso no carnaval do ano passado.
O público dançava e cantava do início ao fim, mostrando a potência e a química das duas cantoras no palco. Ivete sabe ser maestro da plateia como ninguém: manda subir, descer, pular, tudo hipnoticamente seguido pelo público. Ao tocar “Salve, Baby”, parceria com Iza, Ivete confessou: “compus essa música pensando nela!”. Ao longo da noite, desfilaram hits como “Dona de Mim”, do repertório de Iza, e uma sequência reggae comandada por Ivete: primeiro, entoando “Vamos Fugir” como uma ode à familia Gil, emendada por seu próprio hit, “Flor de Reggae”.
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A noite também foi dedicada a homenagens: Ivete mandou um recado para Preta Gil antes de cantar “Sinais de Fogo”. A cantora, que passa por tratamento de um câncer no intestino, foi celebrada por Ivete: “A Preta esta ótima. E uma das pessoas mais potentes que conheço”.
A chuva começava a cair quando Ivete puxou os primeiros acordes da apocalíptica “Pequena Eva”, do repertório de sua antiga banda, originalmente lancada pelo Rádio Taxi nos anos 1980. “Essa combina com o clima!”, brincou a cantora. O tempo que se fechava não afastou o público, que seguiu cantando com as duas até o final do evento.