#garotas – O Filme: Nunca antes ser uma mina foi tão foda!


Um movimento feminista sem precedentes toma conta do Brasil aos 47′ do segundo tempo deste esquisito ano de 2015. Se por um lado Cunha e seus asseclas tentam desesperadamente aprovar bizarrices como a PL 5069(13), que, resumindo, quer obrigar a vítima de estupro a fazer exame de corpo delito antes de ser atendida pelos SUS, […]
Por: Julia Ryff

Julia Ryff

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Um movimento feminista sem precedentes toma conta do Brasil aos 47′ do segundo tempo deste esquisito ano de 2015. Se por um lado Cunha e seus asseclas tentam desesperadamente aprovar bizarrices como a PL 5069(13), que, resumindo, quer obrigar a vítima de estupro a fazer exame de corpo delito antes de ser atendida pelos SUS, as mulheres nunca estiveram tão conscientes de seu poder na sociedade. E isso se mostra nas manifestações que estão pipocando em todo país e também na produção cultural, como o filme #garotas- o filme, que estreia dia 12 de novembro nos cinemas. Mesma data, aliás, que o 2º Ato ‘Fora Cunha’ no Rio de Janeiro.

Mesmo que Alex Medeiros, diretor de #garotas não tenha tido uma visão do futuro quando começou a trabalhar no longa dois anos atrás, uma produção assim chega em ótimo momento porque reflete e dá autenticidade ao barulho feminista, totalmente necessário para que a desigualdade de gênero se amenize, ao menos um pouco. “Eu trabalho com entretenimento, mas não aceito um país em que um deputado ameaça uma deputada de estupro e nada acontece. Minhas personagens também não aceitam um mundo assim. O filme está chegando ao mundo junto com lemas e campanhas necessárias, como #meuprimeiroassedio, “Meu Corpo, Minhas Regras” e nada disso é por acaso. Não estou dizendo que antecipei isto tudo. É o momento, está no ar. Estou apenas fazendo meu papel de realizador de conteúdo audiovisual”, diz. De fato, o filme protagonizado pelas atrizes Giovana Echeverria, Bárbara França e Jeyce Valente dá espaço à possibilidade de várias leituras. É um filme feminista?, de zuação sem limites?, sobre como ‘crescer é foda’? Uma senhorinha de seus 80 anos, avó de uma das atrizes saiu da sala de projeção, na pré estreia, dizendo que acabara de assistir a um filme sobre amor e amizade. E cara, pensa bem: estamos falando de três jovens mulheres, amigas pra caralho, que se ajudam, se apoiam e não precisam de homem nenhum pra se divertir. Pra ter uma ideia, o momento mais ‘romântico’ do filme é muito, muito sujo e rola ao som de Fetichismo, da banda A Maldita. Filme de mulherzinha? Think again!

*

Além de servir como um indicador das aspirações e desejos vigentes, a produção cultural avaliza comportamentos estruturados na desigualdade, como aconteceu com a geração que nasceu entre os anos 70 e início do 80 e cresceu assistindo às princesas cor de rosa dormindo eternamente até que um príncipe valente e másculo resolvesse salvá-las. Uma puta de uma cagada, que os estúdios tiveram que consertar. “O jovem monta e constrói sua personalidade a partir de traços identificatórios que absorvidos da família e da sociedade em geral. Uma produção cultural que promove uma determinada visão do que é ser mulher ou de qual o seu papel na sociedade se oferece como traço de identificação. Então há uma via de mão dupla: tanto a sociedade passa a exigir uma produção cultural mais de acordo com o seu tempo, quanto ela tem o poder de influenciar na construção da imagem pessoal da geração que a consome. Veja, por exemplo, a mudança promovida no universo das princesas da Disney que tiveram como principal traço da personalidade a passividade substituída pela atividade. A princesa não espera mais por um príncipe morta no caixão de vida, mas se apossa de se próprio destino” avalia Bruna Pinheiro, especialista em clínica psicanalítica.

E por que não aproveitar o embalo de Beyoncé, Rihanna ou Lady Gaga, ícones pop que clamam pelo empoderamento feminino e usar as músicas já prontas? A trilha sonora tem direção do Rodrigo Gorky, do Bonde do Rolé e é uma atração à parte. “Minha história se passa durante duas festas. Minhas personagens são meninas que não gostam de rótulos sexuais e comportamentais. Sempre tive claro na cabeça que elas não escutam Rihanna e Katy Perry. Aliás, eu só queria artistas brasileiros na trilha. E eu queria artistas que fugissem do recorte óbvio de “hits do momento”. No desenho das três protagonistas, relacionei cada uma com uma banda: Beth com o Bonde do Rolê, Carina com a Banda Uó e Milena com o Matanza“, diz Alex.

Pedimos ao Gorky uma dica: cinco músicas que poderiam ser a trilha sonora para esse momento do feminismo no Brasil – manifestações, #primeiroassedio, #fora cunha, #agoraéquesãoelas e outras hashtags. Gorky: “Acho que só uma resume bem tudo – ‘A porra da buceta é minha‘, Gaiola das Popozudas“.

#garotas, o filme estreia dia 12 nos cinemas, mesmo dia da segunda manifestação #foracunha na Cinelândia, Rio de Janeiro. Enquanto isso, dê o play na trilha sonora, por aqui.

Por: Julia Ryff

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