_por Patricia Palumbo
Essa frase está na deliciosa “Excelentes Lugares Bonitos” de Beto Villares, música que dá nome ao seu primeiro disco solo. Disco que eu adoro. Beto fez o Música do Brasil com Hermano Vianna e se embrenhou pelo profundo do nosso pais atrás da música das nascentes. Livro, cds e dvd foram lançados em 2000. Seu trabalho só poderia vir contaminado dessa experiência.
Na semana passada assisti na Matilha Cultural em São Paulo – lugarzinho charmoso bem no centrão, a estréia do documentário Siba – Nos Balés da Tormenta feito por Caio Jobim e Pablo Francischelli, os DobleChapa. Os rapazes acompanharam Siba na produção do disco Avante em que o rabequeiro e mestre de Maracatu, se joga na guitarra. Siba conta como sua imersão no mundo do sertão pernambucano foi importante pra sua trajetória. E o mais bacana é perceber que não foi uma experiência de pesquisa, mas de vida. São lindas as imagens de Siba no meio da festa, cantando, poetando e dançando até o sol nascer.
Na mesma noite fui assistir ao show de Rodrigo Caçapa e os Elefantes na Rua Nova na Casa de Francisca – outro lugar charmoso delicadamente conhecido como “a menor casa de shows de São Paulo”. Caçapa é produtor, músico excelente que se dedicou ao som da viola dinâmica – instrumento de dez cordas tipicamente usado nas cantorias do repente nordestino. Junto com mais duas violas e um baixolão, ele faz um som mântrico de acento regional e universal. Os temas são enumerados: Rojão n.1, n.2, n.3. Como também fazia o maestro Moacir Santos, outro pernambucano, com suas Coisas. Hugo LIns – que conheci com esse mesmo instrumento num show da série Instrumental Sesc Brasil, também estava no show e no disco de Caçapa. Em Dois Cordões, de Alessandra Leão, esse som hipnotizante ganha o reforço da canção.
Toda vez que entrevisto um artista pernambucano pergunto sobre esse contato tão estreito com a tradição que é palpável até no rock’n roll de Karina Buhr. E todos me respondem da mesma maneira. É uma experiência cotidiana que acaba se refletindo na expressão musical.
A lista dos excelentes pernambucanos fazendo boa música contemporânea é bem grande. Tenho particular apreço por esse sotaque e por esse amálgama que só eles são capazes de fazer entre a raiz e o pop.
Beto Villares é bem paulista mas conheceu os caminhos que levam à Nazaré da Mata e voltou pra contar.
Essa foi a trilha da minha semana. Quer seguir?
Esses são os discos:
Caçapa – Elefantes na Rua Nova
Siba – Avante
Beto Villares – Excelentes Lugares Bonitos
@patriciapalumbo é apresentadora dos programas Vozes do Brasil, no rádio, e o Instrumental Sesc Brasil na telinha. E uma de nossas jornalistas favoritas.