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core/freeform

Cheio de brilho nos olhos pra compartilhar suas descobertas do mundo, em 2013, o cantor carioca Rubel usou a internet pra jogar Pearl no mundo. O disco, feito despretensiosamente como forma de registrar parte do que tinha vivido e produzido musicalmente durante um intercâmbio no Texas, foi um sucesso. A nostalgia de “Quando Bate Aquela Saudade” atingiu mais de 17 milhões de pessoas e, além de ser single do disco, tornou-se também o hino da bad de muita gente.

Cerca de cinco anos depois, Rubel volta mais maduro e com novas questões. Contemplado na categoria de voto popular pelo edital Natura Musical, ele surge agora com o álbum Casas, lançado hoje. Em letras complexas e melodias diferentes, Rubel traduz as dúvidas que provavelmente preenchem a cabeça de quem está entrando na vida adulta e deixando pra trás algumas certezas da infância. Sem perder a essência, ele faz sua primeira imersão na sonoridade do hip hop. Em “Chiste”, junta-se ao mestre Rincon Sapiência para falar sobre a disputa de força entre a dor e do riso, enquanto em “Mantra” ele convida Emicida, uma de suas principais inspirações, para fazer uma reza pedindo proteção a São Jorge.

Se Pearl falava de sentimentos concretos que ficaram no passado, como a saudade de casa ou as boas-vindas ao mundo dedicadas ao sobrinho Ben, Casas é sobre incerteza, sobre a busca, sobre estar aberto para questionar quem queremos ser e para encontrar os sentidos na casa em que estamos.

Em uma conversa daquelas que ninguém se incomodaria em estender por mais algumas horas, Rubel me contou sobre a busca por sua casa no Brasil, sua relação com a felicidade na hora de compôr, seus sonhos e os próximos passos de Casas. Dê play no disco e continue descendo a rolagem para ler parte dessa conversa.



Pearl é um disco que começa a partir da sua experiência em Austin, no Texas, e das coisas que você viveu por lá. Além de ter sido gravado lá, a mixagem também rolou à distância. Em algumas entrevistas você também fala que cresceu ouvindo dizerem que ser músico não era uma possibilidade, estando no Brasil. Como foi a experiência de fazer Casas aqui? 
A grande temática que definiu tanto o disco quanto a experiência no Brasil, e foi justamente o que acabou dando nome ao disco, é a busca por qual é a minha casa aqui. No Pearl eu fui fazer o intercâmbio no Texas e eu descobri essa casa que deu nome ao [primeiro] disco. Foi onde eu encontrei pessoas incríveis, foi onde eu me encontrei, onde eu me apaixonei, onde tudo fez muito sentido. Até por que esse tipo de experiência que tem um prazo de validade, muitas vezes ela te obriga a viver tudo muito intensamente e aproveitar e saborear cada experiência, sabe?
Quando voltei pro Brasil, eu não tava mais nesse lugar de festa, de descoberta, de euforia e de aventura. Eu voltei pra vida real, que é a minha vida, que não tem prazo de validade, que não tem mais uma faculdade, que eu tô no mundo, que eu preciso ganhar dinheiro, que eu preciso me redescobrir. Porque já não são as mesmas questões, não são as mesmas pessoas. E como eu faço a minha vida comum ser extraordinária? E qual é a minha casa depois de que eu vivi naquela casa, sabe?

E você encontrou uma resposta? Descobriu qual é a sua casa aqui no Brasil?
Sim! Eu encontrei a resposta de que essa ideia de que existe um momento mágico e uma casa mágica, na verdade, é quase que uma construção mental que a gente faz. Cada casa tem a sua singularidade. E quando você fica olhando pra trás e fica comparando o que você viveu antes, você não consegue viver e ver tudo que tem aqui e agora, sabe? São casas... E a gente vai ter várias ao longo da vida. Isso me ajudou muito a entender como fazer o disco, porque às vezes eu sentia que eu nunca mais ia encontrar uma experiência que fosse tão transformadora, eu tinha receio de que eu nunca mais ia conseguir fazer um disco tão forte quanto Pearl.

E qual foi o significado de "casa" que você encontrou aqui no Brasil, comparando com o significado que tinha lá no Texas? 
Eita! (silêncio) É o lugar que você escolhe para ser o seu lar. Eu acho que a palavra escolha é importante, porque é onde você escolhe estar presente, é onde você escolhe ver o outro, que tá do seu lado, que tá na sua casa, que tá na sua rua. É você enxergar as outras pessoas, você se entregar a elas, é você se doar a elas, trocar com elas, é você de fato estar vivo, presente e entregue a aquele lugar. É quase como se a capacidade de ter esse senso de pertencimento a uma casa, a um lar, fosse uma escolha. Lá eu escolhi atribuir todos aqueles sentimentos a aquela casa. E aqui tem vários outros [sentimentos].

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=RBtKFwUhLAA]

Você acha que, emocionalmente, esse disco é mais complexo? Pearl parece um pouco mais nostálgico, enquanto que em Casas parece ter sentimentos diferentes ao longo de cada faixa.
Pearl tem muito uma inocência do começo dos meus 20 anos, que é um momento em que as questões eram mais simples. Ele gira muito em torno da autodescoberta e da saudade. Depois que eu voltei pro Brasil foram muitos outros sentimentos, muito mais complexos e muito mais difíceis de expressar, de contar ‘é isso que estou sentindo’. Mas não tem nenhuma palavra que descreva isso, porque não é nostalgia e não é saudade, é muito uma coisa de ir para o mundo de verdade. Agora sou eu e o mundo. E o que eu quero? Quem eu sou? Como eu me posiciono? O que eu pensei é que as letras poderiam ser um pouco mais abstratas para poder abordar isso tudo. E, musicalmente, ele deveria ser mais complexo mesmo. Ele tem momentos muito tristes, ele tem momentos muito eufóricos, ele tem momentos de samba, eu acho que tudo isso era necessário para dar conta de tudo isso que eu tava vivendo.

As duas primeiras faixas lançadas, "Colégio" e "Chiste", são músicas muito diferentes, né?! Olhando os comentários do público sobre essas músicas, as reações também são muito diferentes! E eu queria saber, então, por se tratar e um disco que foi possível através do voto popular, qual o peso disso?
O peso é muito grande. Eu não vou cair na armadilha de fingir que eu não me importo com a reação das pessoas. Eu não vou cair na armadilha de fingir que eu não me importo com o que as pessoas que se emocionaram com o primeiro disco vão achar desse ou o que as pessoas que votaram para que ele acontecesse vão achar. Então, o que eu tentei fazer foi usar toda essa expectativa, essa pressão, esse medo ao meu favor e eu vou fazer o melhor disco que eu posso. Eu tento ter sempre uma relação de ouvinte pras coisas que eu produzo. Se eu não estivesse fazendo esse disco, qual seria o disco que eu queria ouvir? E foi esse disco que eu fiz.

Musicalmente também é um disco bem mais plural que Pearl. Além do hip hop e mpb, também há elementos de salsa em “Sapato”, de samba em “Casquinha”... Isso foi um processo de reinvenção? Ajudou a deixar Pearl pra trás e fazer algo novo?
Sim, sem dúvida. Mas, na verdade, mais do que uma tentativa de deixar pra trás, foi uma tentativa de seguir em frente. Eu não queria rejeitar o Pearl. Pelo contrário, eu amo tanto o Pearl que eu queria honrar ele. E pra honrar o Pearl, a melhor forma que eu acreditei foi fazendo alguma coisa que fosse diferente, não tentando fazer o mesmo. Dar um passo numa nova direção.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=mgYZZRR4rhc]

No texto de verificação da letra de "Chiste" que você fez pra Genius, você disse que sentia quase que vergonha de trazer uma música sobre felicidade. Poderia explicar um pouco mais sobre como a ambivalência entre esses dois sentimentos, a felicidade e tristeza, influenciam na sua produção? 
Quando eu mostrei esse beat pro Rincon, ele disse que essa música deveria ser uma faixa mais celebratória, pra cima. E eu fui pra casa com isso na cabeça. Quando fui compôr, percebi que eu tava com vergonha de fazer uma música feliz. Como se a tristeza fosse profunda e construtiva, e a alegria fosse uma coisa boba e rasa. E aí eu pensei “que bobagem, porque eu não tô me permitindo, em primeiro lugar, escrever uma música que é celebratória e, em segundo, ser feliz?”. Porque, afinal de contas, é isso... Se eu evito a alegria pra compôr essa música, provavelmente eu esteja rejeitando a alegria na minha vida, sabe? A partir dessa percepção que eu tive a ideia de fazer uma música com o diálogo entre a dor e o riso. Qual dos dois vale mais? Qual dos dois tem mais força? Nenhum deles. Acho que o ponto é esse. Nenhum existe sem o outro e cada um traz o seu valor, traz a sua graça para a vida.

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Os depoimentos da faixa Passagem vieram do seu documentário Passagem, feito nas escolas do Rio de Janeiro. Por que escolher aqueles três depoimentos específicos? Qual o significado daquelas falas pra você? 
Eita! Eu acho que cada uma delas diz um pouco do que são os meus próprios sonhos. Eu me identifico muito com os três depoimentos. O filme é um pouco isso. Era uma tentativa de fazer um retrato da educação do Rio de Janeiro através da perspectiva de vida dos alunos. Era uma vontade de entender o que as pessoas queriam pra vida delas. E isso é uma pergunta que não se resolve. É uma busca pelo seu lugar, pelo seu melhor lugar no mundo.
Então tem um depoimento que o moleque quer pegar um barco e ir pra Irlanda e o sonho de vida é esse, sabe? O que eu acho legítimo, sair dessa loucura. Pegar um barco e ir. E pode ser que durante alguma parte da minha vida eu faça isso. Tem um outro que fala que ele não quer se deixar ser consumido pelo trabalho a ponto de esquecer da família, da esposa e dos filhos. O que ele quer é sair pelo mundo, pra viajar com a esposa e com os filhos. Por mais brega e cafona ou mais clichê, isso é um sonho muito legítimo também. E o outro fala sobre a relação dele com o trabalho e com a arte. Ele diz que ele não quer necessariamente escrever o melhor livro do mundo, mas ele quer o fazer para tal. Eu acho muito bom essa ironia. De “eu não quero ser o melhor, mas eu quero ser o melhor que eu posso”. Todas me tocam muito.

É engraçado que logo no primeiro depoimento do documentário o menino pergunta qual o seu sonho. 
Eu até respondi ele, na verdade. E eu tô vivendo esse sonho. O que eu respondi pra ele foi “o meu sonho é viver bem, de música e de cinema”.

Mas isso não aparece ali, né?! Tem um corte. 
Não! Por que, quem se importa? (risos) O filme não era sobre mim, era sobre eles. Mas agora que eu tô falando sobre mim, talvez importe um pouquinho.

E o que você pensa em próximos passos? O que tá sendo planejando em relação a turnês e, comparando com estrutura de turnê de Pearl, o que vai ser diferente?
A principal diferença é que a primeira turnê foi espaçada, ela aconteceu ao longo de dois anos. A minha ideia é: até o final do ano, fazer o máximo de shows possíveis. Pelo menos uns quatro shows por mês, ou mais. Passar por todas as capitais e o máximo de cidades do interior possível, tocar no máximo de festivais possível e, enfim, fazer o disco circular. E, ano que vem, não tenho a menor ideia. Pode ser que eu pegue um barco e vá pra Irlanda.

Cheio de brilho nos olhos pra compartilhar suas descobertas do mundo, em 2013, o cantor carioca Rubel usou a internet pra jogar Pearl no mundo. O disco, feito despretensiosamente como forma de registrar parte do que tinha vivido e produzido musicalmente durante um intercâmbio no Texas, foi um sucesso. A nostalgia de “Quando Bate Aquela Saudade” atingiu mais de 17 milhões de pessoas e, além de ser single do disco, tornou-se também o hino da bad de muita gente.
Cerca de cinco anos depois, Rubel volta mais maduro e com novas questões. Contemplado na categoria de voto popular pelo edital Natura Musical, ele surge agora com o álbum Casas, lançado hoje. Em letras complexas e melodias diferentes, Rubel traduz as dúvidas que provavelmente preenchem a cabeça de quem está entrando na vida adulta e deixando pra trás algumas certezas da infância. Sem perder a essência, ele faz sua primeira imersão na sonoridade do hip hop. Em “Chiste”, junta-se ao mestre Rincon Sapiência para falar sobre a disputa de força entre a dor e do riso, enquanto em “Mantra” ele convida Emicida, uma de suas principais inspirações, para fazer uma reza pedindo proteção a São Jorge.<div id="videoAd">*</div> <script type="text/javascript">var t = "//des.smartclip.net/ads?type=dyn&plc=90854&sz=400x320&elementId=videoAd";t += "&ref=" + encodeURIComponent(window.top.document.URL);t += "&rnd=" + Math.round(Math.random()*1e8);var s = document.createElement("script");s.type = "text/javascript";s.src = t;document.body.appendChild(s);</script>
Se Pearl falava de sentimentos concretos que ficaram no passado, como a saudade de casa ou as boas-vindas ao mundo dedicadas ao sobrinho Ben, Casas é sobre incerteza, sobre a busca, sobre estar aberto para questionar quem queremos ser e para encontrar os sentidos na casa em que estamos.
Em uma conversa daquelas que ninguém se incomodaria em estender por mais algumas horas, Rubel me contou sobre a busca por sua casa no Brasil, sua relação com a felicidade na hora de compôr, seus sonhos e os próximos passos de Casas. Dê play no disco e continue descendo a rolagem para ler parte dessa conversa.
Pearl é um disco que começa a partir da sua experiência em Austin, no Texas, e das coisas que você viveu por lá. Além de ter sido gravado lá, a mixagem também rolou à distância. Em algumas entrevistas você também fala que cresceu ouvindo dizerem que ser músico não era uma possibilidade, estando no Brasil. Como foi a experiência de fazer Casas aqui? 
A grande temática que definiu tanto o disco quanto a experiência no Brasil, e foi justamente o que acabou dando nome ao disco, é a busca por qual é a minha casa aqui. No Pearl eu fui fazer o intercâmbio no Texas e eu descobri essa casa que deu nome ao [primeiro] disco. Foi onde eu encontrei pessoas incríveis, foi onde eu me encontrei, onde eu me apaixonei, onde tudo fez muito sentido. Até por que esse tipo de experiência que tem um prazo de validade, muitas vezes ela te obriga a viver tudo muito intensamente e aproveitar e saborear cada experiência, sabe? 
Quando voltei pro Brasil, eu não tava mais nesse lugar de festa, de descoberta, de euforia e de aventura. Eu voltei pra vida real, que é a minha vida, que não tem prazo de validade, que não tem mais uma faculdade, que eu tô no mundo, que eu preciso ganhar dinheiro, que eu preciso me redescobrir. Porque já não são as mesmas questões, não são as mesmas pessoas. E como eu faço a minha vida comum ser extraordinária? E qual é a minha casa depois de que eu vivi naquela casa, sabe?
E você encontrou uma resposta? Descobriu qual é a sua casa aqui no Brasil? 
Sim! Eu encontrei a resposta de que essa ideia de que existe um momento mágico e uma casa mágica, na verdade, é quase que uma construção mental que a gente faz. Cada casa tem a sua singularidade. E quando você fica olhando pra trás e fica comparando o que você viveu antes, você não consegue viver e ver tudo que tem aqui e agora, sabe? São casas&#8230; E a gente vai ter várias ao longo da vida. Isso me ajudou muito a entender como fazer o disco, porque às vezes eu sentia que eu nunca mais ia encontrar uma experiência que fosse tão transformadora, eu tinha receio de que eu nunca mais ia conseguir fazer um disco tão forte quanto Pearl.
E qual foi o significado de &#8220;casa&#8221; que você encontrou aqui no Brasil, comparando com o significado que tinha lá no Texas? 
Eita! (silêncio) É o lugar que você escolhe para ser o seu lar. Eu acho que a palavra escolha é importante, porque é onde você escolhe estar presente, é onde você escolhe ver o outro, que tá do seu lado, que tá na sua casa, que tá na sua rua. É você enxergar as outras pessoas, você se entregar a elas, é você se doar a elas, trocar com elas, é você de fato estar vivo, presente e entregue a aquele lugar. É quase como se a capacidade de ter esse senso de pertencimento a uma casa, a um lar, fosse uma escolha. Lá eu escolhi atribuir todos aqueles sentimentos a aquela casa. E aqui tem vários outros [sentimentos].
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Você acha que, emocionalmente, esse disco é mais complexo? Pearl parece um pouco mais nostálgico, enquanto que em Casas parece ter sentimentos diferentes ao longo de cada faixa. 
Pearl tem muito uma inocência do começo dos meus 20 anos, que é um momento em que as questões eram mais simples. Ele gira muito em torno da autodescoberta e da saudade. Depois que eu voltei pro Brasil foram muitos outros sentimentos, muito mais complexos e muito mais difíceis de expressar, de contar ‘é isso que estou sentindo’. Mas não tem nenhuma palavra que descreva isso, porque não é nostalgia e não é saudade, é muito uma coisa de ir para o mundo de verdade. Agora sou eu e o mundo. E o que eu quero? Quem eu sou? Como eu me posiciono? O que eu pensei é que as letras poderiam ser um pouco mais abstratas para poder abordar isso tudo. E, musicalmente, ele deveria ser mais complexo mesmo. Ele tem momentos muito tristes, ele tem momentos muito eufóricos, ele tem momentos de samba, eu acho que tudo isso era necessário para dar conta de tudo isso que eu tava vivendo.
As duas primeiras faixas lançadas, &#8220;Colégio&#8221; e &#8220;Chiste&#8221;, são músicas muito diferentes, né?! Olhando os comentários do público sobre essas músicas, as reações também são muito diferentes! E eu queria saber, então, por se tratar e um disco que foi possível através do voto popular, qual o peso disso? 
O peso é muito grande. Eu não vou cair na armadilha de fingir que eu não me importo com a reação das pessoas. Eu não vou cair na armadilha de fingir que eu não me importo com o que as pessoas que se emocionaram com o primeiro disco vão achar desse ou o que as pessoas que votaram para que ele acontecesse vão achar. Então, o que eu tentei fazer foi usar toda essa expectativa, essa pressão, esse medo ao meu favor e eu vou fazer o melhor disco que eu posso. Eu tento ter sempre uma relação de ouvinte pras coisas que eu produzo. Se eu não estivesse fazendo esse disco, qual seria o disco que eu queria ouvir? E foi esse disco que eu fiz.
Musicalmente também é um disco bem mais plural que Pearl. Além do hip hop e mpb, também há elementos de salsa em “Sapato”, de samba em “Casquinha”&#8230; Isso foi um processo de reinvenção? Ajudou a deixar Pearl pra trás e fazer algo novo? 
Sim, sem dúvida. Mas, na verdade, mais do que uma tentativa de deixar pra trás, foi uma tentativa de seguir em frente. Eu não queria rejeitar o Pearl. Pelo contrário, eu amo tanto o Pearl que eu queria honrar ele. E pra honrar o Pearl, a melhor forma que eu acreditei foi fazendo alguma coisa que fosse diferente, não tentando fazer o mesmo. Dar um passo numa nova direção.
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Quando eu mostrei esse beat pro Rincon, ele disse que essa música deveria ser uma faixa mais celebratória, pra cima. E eu fui pra casa com isso na cabeça. Quando fui compôr, percebi que eu tava com vergonha de fazer uma música feliz. Como se a tristeza fosse profunda e construtiva, e a alegria fosse uma coisa boba e rasa. E aí eu pensei “que bobagem, porque eu não tô me permitindo, em primeiro lugar, escrever uma música que é celebratória e, em segundo, ser feliz?”. Porque, afinal de contas, é isso&#8230; Se eu evito a alegria pra compôr essa música, provavelmente eu esteja rejeitando a alegria na minha vida, sabe? A partir dessa percepção que eu tive a ideia de fazer uma música com o diálogo entre a dor e o riso. Qual dos dois vale mais? Qual dos dois tem mais força? Nenhum deles. Acho que o ponto é esse. Nenhum existe sem o outro e cada um traz o seu valor, traz a sua graça para a vida.
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Eita! Eu acho que cada uma delas diz um pouco do que são os meus próprios sonhos. Eu me identifico muito com os três depoimentos. O filme é um pouco isso. Era uma tentativa de fazer um retrato da educação do Rio de Janeiro através da perspectiva de vida dos alunos. Era uma vontade de entender o que as pessoas queriam pra vida delas. E isso é uma pergunta que não se resolve. É uma busca pelo seu lugar, pelo seu melhor lugar no mundo. 
Então tem um depoimento que o moleque quer pegar um barco e ir pra Irlanda e o sonho de vida é esse, sabe? O que eu acho legítimo, sair dessa loucura. Pegar um barco e ir. E pode ser que durante alguma parte da minha vida eu faça isso. Tem um outro que fala que ele não quer se deixar ser consumido pelo trabalho a ponto de esquecer da família, da esposa e dos filhos. O que ele quer é sair pelo mundo, pra viajar com a esposa e com os filhos. Por mais brega e cafona ou mais clichê, isso é um sonho muito legítimo também. E o outro fala sobre a relação dele com o trabalho e com a arte. Ele diz que ele não quer necessariamente escrever o melhor livro do mundo, mas ele quer o fazer para tal. Eu acho muito bom essa ironia. De “eu não quero ser o melhor, mas eu quero ser o melhor que eu posso”. Todas me tocam muito.
É engraçado que logo no primeiro depoimento do documentário o menino pergunta qual o seu sonho. 
Eu até respondi ele, na verdade. E eu tô vivendo esse sonho. O que eu respondi pra ele foi “o meu sonho é viver bem, de música e de cinema”.
Mas isso não aparece ali, né?! Tem um corte. 
Não! Por que, quem se importa? (risos) O filme não era sobre mim, era sobre eles. Mas agora que eu tô falando sobre mim, talvez importe um pouquinho.
E o que você pensa em próximos passos? O que tá sendo planejando em relação a turnês e, comparando com estrutura de turnê de Pearl, o que vai ser diferente? 
A principal diferença é que a primeira turnê foi espaçada, ela aconteceu ao longo de dois anos. A minha ideia é: até o final do ano, fazer o máximo de shows possíveis. Pelo menos uns quatro shows por mês, ou mais. Passar por todas as capitais e o máximo de cidades do interior possível, tocar no máximo de festivais possível e, enfim, fazer o disco circular. E, ano que vem, não tenho a menor ideia. Pode ser que eu pegue um barco e vá pra Irlanda.

Cheio de brilho nos olhos pra compartilhar suas descobertas do mundo, em 2013, o cantor carioca Rubel usou a internet pra jogar Pearl no mundo. O disco, feito despretensiosamente como forma de registrar parte do que tinha vivido e produzido musicalmente durante um intercâmbio no Texas, foi um sucesso. A nostalgia de “Quando Bate Aquela [&hellip;]

Entrevista | Rubel busca seu lugar no mundo em novo disco, “Casas”

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