
Depois de 5 anos de produção, 5Estrelas (2025) é lançado. O álbum solo de Candy Mel traz mensagem com leveza, pop com catira e muita emoção. “O disco está imbuído de amor-próprio, resgate de autoestima e sensualidade”, explica ela.
Mel conta que o álbum nasceu por 2 motivos: o primeiro, a dívida com os fãs “A gente não pode esquecer que sem fã, a gente não é nada”, brinca ela. O segundo seria a necessidade artística. “Enquanto pioneira no pop do Brasil, fazia parte do meu caminho apresentar um trabalho solo”, conta.
“Esse disco é uma celebração da construção artística. De tudo que eu pude ser, pelos que vieram antes de mim, de tudo que eu posso ser agora. Tem uma história que eu precisava contar”, fala.
Ex-vocalista da Banda Uó. Candy Mel, ao lado de Davi Sabbag e Mateus Carrilho, formaram o grupo em 2010, em Goiânia. Com 2 álbuns na carreira, a banda se separou em 2018, e, no ano passado, realizaram uma turnê de reencontro.
Sobre o reencontro, Mel diz: “Foram shows apoteóticos, todos lotados, com fãs que admiram nossa trajetória e trabalho. Foi muito importante eu ter esse contorno do Davi e do Matheus de volta para mim, para eu relembrar quem eu sou e, a partir disso, seguir solo com uma despedida apropriada. A banda Uó me completa”, diz ela.
Mel quer colocar o público para dançar. E, com refrões chicletes, melodias cativantes e clipes que trazem diversão, ela consegue. 5Estrelas (2025) é a trilha sonora para uma noite afora. Em toda produção, latinidade é a palavra-chave.
Do sertanejo da infância ao tecnobrega da adolescência, Candy Mel é feita de mel e de “açúcar e sal” – como canta na sexta faixa do álbum – e explora sua pluralidade como artista no disco.
“A Candy Mel é meu CNPJ. É um nome artístico, que deu abertura para performance no palco. É uma persona que é minha, mas que me dá a possibilidade de fazer coisas que eu, Mel, não faria. Dentro desse álbum, eu consegui fazer a junção das duas”, diz.
O próprio nome do álbum também faz referência aos feats. Para Mel, 4 estrelas estavam selecionadas para o projeto, desde os primórdios: MC Tha, Liniker, Jup do Bairro e Rico Dalasam eram as escolhas para os feats.
5Estrelas (2025) vem para reforçar o que o público, fã da Banda Uó, já sabia. Candy Mel é uma grande diva pop. Leia o faixa-a-faixa a seguir.
“Amor Sincero: eu escrevi essa música em um momento de muita solidão e tristeza. Eu escrevi um poema sobre essas tristezas e percebi que ele tinha uma melodia, aí virou uma música. Para ser uma música do meu álbum, eu precisava de mais coisa, e aí eu chamei a Kika Boom, drag de Goiás, que fez parte da minha infância, morava no mesmo bairro que eu.
É uma música que fala das minhas raízes, das minhas tristezas, da minha sensação de abandono familiar. É uma música que tem os violões dramáticos, tem violada, aquele drama bem cafona, uma coisa meio Gipsy Kings, que eu gosto muito e faz parte da minha construção, e parece muito simples, mas que demorou para a gente chegar nessa cor”.
“Tanto Pra Dar: a letra da música é do Leo Cavalcanti. Depois que adicionei o meu tempero nela, “Tanto Pra Dar” vem de uma forma muito sincera. Ela é um grito. Na época que ela surgiu, eu estava precisando muito trazer uma coisa minha para os outros, provar alguma coisa para as pessoas e hoje, pra mim, ela tem outro significado.
Ao invés de querer provar algo, eu trago ela com muita sinceridade, eu realmente tenho muito para dar, não é só uma mágoa, é uma verdade. Ela ganha outros lugares. Eu fico muito próxima da produção. Lembro que, quando cantei ela, pensei: “Nossa, estou muito sozinha nessa música, estou sentindo falta de um rap melódico”. E o Rico já estava pré-selecionado para participar do meu trabalho. Mandei para ele e ele veio com uma vibe cavalheiro, ele arredondou as arestas e a música se tornou um hino”.
“Corpo Nu: é uma música quente, sensual, para dançar, é um hit com DNA muito popular, vibrante, tropical. É piseiro? É brega funk? É seresta? É tudo misturado? É! Tudo misturado, com tudo que eu tenho, que cabe na minha boca, no meu corpo e no Brasil que eu gosto. É um hino para dançar e se sentir. Pode pedir para o DJ”.
“Elixir: a música fala sobre tudo que implica o amor-próprio. Ele vai, ele vem, ele passa, ele fica, mas ele está sempre ali, é algo que a gente sempre tem que buscar. Quando eu transmito o que eu sinto para as pessoas, através da minha voz, eu me curo e, às vezes, a gente consegue curar outras pessoas no meio do caminho também.
A gente precisa entender que o amor de fora nunca vai ser amor que o nosso propósito com a gente mesmo. Esse amor não pode sublinhar nossa própria forma de se ver, de enxergar nossa potência. É um canto de amor-próprio. Eu tenho tudo que eu preciso, a partir disso eu me faço, me desfaço e me refaço quantas vezes for preciso”.
“Estrela: essa eu amo de paixão. Essa é uma das minhas músicas favoritas do álbum. Fala sobre um amor que aconteceu, mas que não vingou. O amor tem essa característica, ele é fluído, vai e vem, o importante é a gente não se perder dele. Quando a história de um viajante que seguiu seus desejos, se perdeu e se tornou experiência para quem ficou sozinha, virou estrela, para eu poder brilhar.
Essa música toca em um lugar de abandono, quando você é obrigada a colocar valor na solidão e transformar ela em uma solitude obrigatória, para não sofrer tanto. Acho que “Estrela” vai tocar as pessoas em milhares de lugares escondidos, porque é sobre nossa existência, e ela é só. Por mais que a gente divida ela com outras pessoas, ela é só. “Estrela” é sobre encontrar esse brilho dentro da gente”.
“Açúcar e Sal: é sobre autoestima. Aceitar que a gente, muitas vezes, é feia, e que isso não torna a gente menos desejável para outras pessoas. “Feia” cabe em vários lugares estéticos, mas também sobre como você lida com as pessoas, como você fala, vê o mundo, o que te falta, tudo isso a gente sintetiza na feiura. Essa música também fala sobre aceitar nossa sombra, que nosso valor mora ali, na nossa sombra, só vendo ela que conseguimos transmitir alguma luz para as pessoas.
E o que é feio para uns, acaba sendo iguaria para muitos. Ninguém quer ser feia, mas todo mundo é um pouco [risos]. A Jup traz um verso sobre trazer essa liberdade de ser desejável em meio ao caos, o que eu achei maravilhoso”.
“Doidinho: eu não pensei. “O que você quis com essa música?” Eu não quis nada, eu só queria ficar dançando na frente do espelho de calcinha, esperando o crush. Queria que fosse uma música gostosinha. O ponto de partida dessa música era eu queria que tivesse referências do tecnobrega.
Que tivesse as cordas do Felipe Cordeiro, viesse junto trazendo o molho paraense. A música foi conduzida para outros universos, que não fosse só do tecnobrega, ela veio e encaixou em mim. A letra fala de trivialidades, beber um vinho e brindar com o espelho”.
“Perco: é um recado que eu trago para relação que eu tive por quase 10 anos que não tinha estabilidade nenhuma. No início, eu via futuro e gostava da pessoa, mas depois eu passei a não ver e deixei ela continuar acontecendo porque a pessoa não me incomodava. É uma pessoa que aparece de vez em quando, não me incomoda, então porque não?
Quando a gente tanto faz, é porque a gente não está com tesão, “Perco” é sobre isso. Um dia, essa pessoa estava aqui comigo, eu olhei e falei “Acho que eu não sinto mais nada” Ali eu percebi que o meu desejo era completamente volátil. Ali eu percebi que a gente continuasse a conversa, eu não ia querer mais, então parei a conversa no meio [risos]. Ele foi embora e eu escrevi a primeira frase da música: “Eu perco o tesão muito rápido por você”.
“Emmanuelle: falei para o Nave e para o Feijuca que eu precisava cantar alguma coisa nova. Precisamos trazer alguma coisa fresca para o desfecho do álbum. Sentamos no estúdio e eu mostrei a abertura de Os desejos de Emmanuelle e Emmanuelle na Galáxia.
A música tem esse lugar galáxico, milhões de sussurros e vozes, tem muito desejo. Lembrei da descoberta da minha sensualidade e a letra nasceu ali. É uma música que eu faria amor ouvindo ela. Ela tem uma parte melódica boa, que é divertida, mas também tem uma poética”.
“Mil e Uma Noites: a última música do álbum que trabalhamos no álbum. Amarra a busca por sonoridades latinas porque traz o bolero para contar a história de uma meretriz. A Liniker veio junto comigo para construir esse universo de divas do rádio.
Traz referências de nomes como Ângela Maria e Dalva de Oliveira. É uma poesia cantada, sem refrão, com uma carga dramática e um beat constante. A minha junção com a Liniker ficou muito sofisticada. Criamos um universo único, com muitos segredos e confissões.
É a história de uma mulher que foi obrigada a seguir em frente porque o amor nunca chegou, mesmo ela esperando por ele mil e uma noites. Tudo isso acompanhado por uma orquestra linda, dirigida pelo Vitor Arantes, beats do Nave e dos violões do Feijuca que amarraram tudo”.
“Benditas: MC Tha é uma irmã pra mim. Se eu estou lançando um álbum, é porque ela foi uma pessoa muito importante para mim. Um dia, ela dormiu aqui e acordou falando: “Eu tenho uma música para você”, que era para a gente cantar juntas.
“Benditas” fala sobre mulheres cis e trans ao mesmo tempo. Ela narra a história de duas mulheres que se unem na hora de dizer não. É sobre mulheridades, a irmandade que eu tenho com a Tha. Existem momentos que são extremamente diferentes, mas tem problemas que são iguais e se encontram no mesmo ponto, onde a gente quer gritar um não e não é ouvida”.